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Guru do luxo defende Ikea contra 'made in China'

Pierre Keller foi diretor de uma das melhores escolas de design do mundo

Suíço diz que milhões podem ser designers e elogia rede sueca por oferecer preços baratos e móveis de qualidade

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

O designer suíço Pierre Keller, 66, esteve em Xangai no mês passado. Viu novos clubes, hotéis, restaurantes por todo lado. Mas saiu com a impressão de que, se tem uma coisa na qual os chineses ainda não têm domínio, é no design "made in China".

Sobre a cobrança por um design sustentável para o século 21, ele pede desculpas por não embarcar na onda politicamente correta: "Se fosse [para mudar o mundo], estaria trabalhando com o papa".

Foi o Hot Luxury, seminário promovido pelo jornal "International Herald Tribune", que trouxe o designer para São Paulo, no mês passado. No lobby do hotel Unique, em São Paulo, defendeu que design bom é design "barato e para todos" -como os móveis populares da rede sueca Ikea.

Ele é ex-diretor da Ecal, uma das melhores escolas de design da Europa, em Lausanne (Suíça).

Com parcerias que vão da Coca-Cola à Nespresso, a Ecal é celeiro de talentos -vide os ex-alunos e irmãos-celebridade Bouroullec.

Astros da área, como os irmãos Campana, são professores convidados.

Aposentado recentemente, Keller considera que seu ofício exige "99% trabalho e 1% genialidade". Ele? Apenas "um homem de negócios vendendo minha escola". Confira trechos da entrevista.

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China

O grande problema da China é que eles não trabalham tão bem quanto você imagina. Tenho certeza de que fazem boas coisas, mas, para mim, a China não é o melhor país para design.

Estive em Xangai há um mês, e é incrível: novos clubes, novos hotéis, novos restaurantes. Mas, em geral, eles chamam designers de Hong Kong e da Europa.

Luxo vs. crise

Quando temos problemas, você precisa de fantasia.

Um amigo, presidente da Hublot [grife de relógios], acabou de fazer uma joint venture com a Ferrari. Vão fazer um Hublot vermelho, numa edição especial de cem relógios. E acho isso ótimo. Os clientes da Ferrari pagam US$ 300 mil. O relógio custa US$ 10 mil. Essas pessoas estão bem, fazendo bons negócios. Você consegue acreditar nisso? No pior dos momentos...

A insustentável leveza

Estive em Roma há seis meses, e me perguntaram se o design tem de mudar o mundo. Não estou certo. Se fosse [assim], estaria trabalhando com o papa.

Claro que podemos trabalhar com sustentabilidade, com novos materiais. Mas não temos de focar totalmente [nisso]. Ou sua criatividade vai parar imediatamente.

Design popular

A história de sucesso da Ikea [rede sueca de móveis baratos e contemporâneos] é absolutamente incrível.

Conheço o chefe, sr. [Ingvar] Kamprad, muito bem. Esse homem não tinha um tostão. E fez tudo sozinho. Percebeu que é possível fazer coisas muito simples, com bom design e bem barato.

Por milhões

Design pode ser feito por milhões. Você pode aprender perfeitamente. É 99% trabalho e 1% genialidade.

Banalizar é preciso

As pessoas podem banalizar o design do jeito bom. O canivete suíço funciona direitinho e, agora, não é mais design, é produto do dia a dia.

Design é para ser para todo mundo. Barato, bom e para todos. E tem de ser fantasia também. Você não precisa vender algo que funcione perfeitamente. Apenas venda um pedaço de sonho.

Sucesso da Ecal

Costumava acordar às 5h, ir para a escola às 6h30, tomar café da manhã com meus alunos. E viajar 35 semanas por ano para promover o trabalho dos estudantes. Se não tiver nada para promover, fique em casa. Um homem de negócios vendendo minha escola.

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