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Vinicius Torres Freire

Liquidação mundial de fim de ano

Tensão de fim de ano, mais um fracasso europeu e PIBs em baixa levam 'mercados' a vender commodities

A CADA FRACASSO bimestral da Europa, há liquidação nos mercados. Ontem foi dia de vender commodities (petróleo, metais, grãos). Tal como no fim de setembro, quando os donos do dinheiro resolviam de novo que o mundo iria à breca.

Vendem commodities, moedas de países mais periféricos e/ou dependentes de commodities (como o Brasil), compram dólares e títulos da dívida do governo americano.

"O preço da maioria das commodities, em particular o das matérias-primas industriais, entrou em queda livre no final de setembro e início de outubro em meio ao tumulto global nos mercados financeiros provocado pelas preocupações dos investidores com a perspectiva do crescimento econômico mundial e com a crise da dívida da eurozona".

É o que diz o relatório bimestral da "Economist Intelligence Unit" (EIU) sobre a economia do mundo, divulgado ontem. Quase letra por letra, é a explicação para a liquidação de commodities destes dias. A diferença é que nos finais de anos há uma corrida por dinheiro vivo, dada a escassez de liquidez típica do período, diz o povo do mercado.

Como no final de setembro e início de outubro, o rendimento dos títulos do Tesouro americano caiu ontem. Isto é, houve maior procura pelos papéis da dívida dos EUA (o preço sobe, o rendimento cai). O real se desvalorizou -no início de outubro, chegou a R$ 1,91. Caiu o preço de petróleo, ouro, cobre (ainda mais) etc. O euro continua despencando.

Trata-se pois de uma mistura de medo, mudanças em investimentos especulativos, comportamento de boiada e da observação ponderada sobre a perspectiva do crescimento mundial em 2012, que será menor, e sobre a incompetência política europeia, que parece cada vez maior.

A EIU revisou para baixo sua estimativa para o crescimento da eurozona em 2012. Previa estagnação ou quase isso (-0,3%). Ontem, anunciou que prevê recessão de 1,2% (este ano, segundo a EIU, a eurozona deve crescer 1,4%).

Na China, o crescimento baixaria dos ainda extraordinários 9,2% deste 2011 para 8,2% no ano que vem. Parece ótimo, quase uma ninharia de baixa, dada a desgraça euroamericana, mas em tese essa piscadela no PIB chinês nos afeta.

Segundo estudo estatístico dos economistas do Itaú divulgado ontem, uma queda de um ponto percentual no PIB chinês derruba os preços das commodities em 5,3%, "tudo o mais constante".

O Brasil exporta majoritariamente commodities. Preços menores derrubam nossa receita em dólares.

Na previsão da EIU, os preços das commodities "comida" caem quase 13% no ano que vem (subiram quase 27% em 2011 e 24% em 2010). O de matérias-primas industriais (metais etc.) cai 13% (ante alta de 22,5% em 2011 e 45,4% em 2010).

Vê-se por tais números por que a balança comercial brasileira foi um sucesso surpreendente neste ano.

Não dá, decerto, para inferir que agora vamos para o brejo, nem de longe. Mas, num ano de finanças mundiais tensas, devem aumentar um pouco as nossas necessidades de financiamento externo.

Enfim, essas variações recentes de preços expressam a "opinião" prática dos mercados sobre a derrocada europeia. Mas também "precificam" um ano de PIBs muito ruins pelo planeta inteiro.

vinit@uol.com.br

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