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Análise / Conjuntura

Alta dos salários ameaça com mais desemprego e inflação

A INFLAÇÃO PODE NÃO CEDER SE OS ESTÍMULOS À DEMANDA PROSSEGUIREM

GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Está clara a forte desaceleração da economia brasileira, ficando mais provável que, tanto em 2011 como em 2012, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) fique até abaixo de 3%, com influência negativa do setor industrial e, mais recentemente, do de serviços.

O desemprego, depois de longo tempo, volta a preocupar, aumentando o custo social de trazer a inflação para perto da meta.

Vários fatores pesaram para esse cenário. Primeiro, a inflação escapou do controle devido ao crescimento excessivo de 2010 e à desatenção com o aumento dos preços das commodities.

Já no primeiro semestre, as negociações salariais reivindicavam mais do que a reposição de uma inflação passada muito alta, o que, sem lastro na produtividade, promoveria elevação real de custos.

A seguir, o Banco Central soava o alarme quanto à gravidade dos efeitos da crise financeira externa, a ponto de justificar agressiva redução dos juros.

Consumidores e investidores se reposicionaram, reduzindo despesas e contraindo a demanda interna. O dólar sobe de patamar. O governo passava a estimular a demanda mesmo com os custos de produção em alta.

Segundo o Dieese, 97% dos reajustes salariais no primeiro semestre de 2011 foram iguais ou superiores à inflação.

O IBGE mostra que a indústria se desacelera há mais de um ano, tendo caído 0,9% no terceiro trimestre. O emprego industrial cai há dois meses.

Além de lutar contra uma demanda decrescente e a concorrência com os importados, a indústria vê seus custos aumentarem.

O próprio setor de serviços vem desacelerando, tendo caído no terceiro trimestre. Aí também os reajustes salariais foram iguais ou superiores à inflação em 87% dos casos no primeiro semestre.

Enquanto isso, na agropecuária, que, segundo o Cepea/USP, pode ter crescimento real do PIB da ordem de 4% em 2011, observava-se pequena queda (cerca de 1%) no custo real da mão de obra.

Quanto às commodities, seus preços em dólares caíram, em média, 14% em 2011. Para alimentos, a queda média chegou a 10%, similar à desvalorização do real.

Sem ajuda das commodities e com os custos em alta, a inflação pode não ceder se os estímulos à demanda prosseguirem.

Diante do baixo crescimento, o governo terá de decidir entre relaxar o controle fiscal e aumentar o crédito (agravando a inflação) para reanimar a economia ou ver o desemprego alcançar níveis politicamente custosos num ano de eleições.

GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

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