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Roberto Rodrigues

Outra vez

O agro brasileiro teve um bom ano: os preços foram bons, a renda no campo cresceu e o setor evoluiu

Hoje é o último dia do ano. De novo!

E, mais uma vez, todo mundo faz balanço do que aconteceu e assume compromissos para o futuro, aquela história que todos conhecem e que se repete a cada final de ano.

Muito interessante isso, porque a única coisa que muda é o calendário -o resto segue do mesmo jeito: o clima, a saúde, o dinheiro, os sentimentos, tudo é igual. Mas essa curiosa imposição da cultura, dos usos e costumes, acaba emocionando as pessoas e as leva ao exame das ações passadas e às promessas para o Ano-Novo.

Fiquei pensando sobre o que escrever nesta coluna, que fosse diferente dessa normalidade. Mas algo me diz que nada tão diferente caberia aqui. Pensei em falar das pessoas queridas que morreram ou das criancinhas amadas que nasceram; das enormes mudanças políticas mundiais, como a Primavera Árabe desabando sobre todos naquela região, e o papel das redes sociais (meio anárquicas) nisso tudo. Das conquistas do nosso agronegócio, das perdas dele.

Pensei em falar de futebol, mas não sou corintiano, nada a festejar; e o desastre do Santos diante do Barcelona inibe outros arroubos, sinalizando as dificuldades para 2014. Aliás, poderia também falar sobre os problemas de infraestrutura para a Copa, mas todo mundo já falou tudo sobre essas coisas, e iria "chover no molhado".

Ah, poderia contar de minhas experiências pessoais: neste ano tive uma turma maravilhosa de alunos na Unesp de Jaboticabal. As turmas são como as safras: tem as ruins, as boas, as mais ou menos. Este foi meu penúltimo ano, porque em 2012, chegando aos 70 anos, serei obrigado a me aposentar.

Gostaria que tivesse sido a última turma, seria chave de ouro. Podia falar do prazer que foi presidir o Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e do prazer ainda maior de passar a presidência, depois de cinco anos de trabalho bem assessorado, ao grande líder do agro paulista João Sampaio.

Poderia contar das pessoas interessantes que conheci, dos eventos de que participei e suas curiosidades, das frias em que entrei, dos micos que paguei. Mas quem se interessaria por isso? São coisas do meu "ano passado", só interessam a mim, bem como os bons e os maus filmes que assisti, as dores que senti, os prazeres que vivi...

Por isso tudo, vou escrever o que se espera que escreva na última coluna de 2011: sobre minha grande paixão, à qual dediquei toda a vida e pela qual lutarei até o último raio de luz -a agricultura brasileira.

Ela teve um bom ano. Os preços foram bons, a renda real no campo cresceu, dívidas foram pagas, o setor evoluiu com tecnologias supermodernas e melhores ferramentas de gestão. Problemas pontuais existem, alguns graves, como a baixa remuneração do arroz no Rio Grande do Sul, para o qual se busca solução. Também a laranja teve preços baixos, mas, no conjunto, o agro brasileiro foi bem, abrindo mercados, avançando no mundo, mesmo com a crise financeira dos ricos.

Sobre 2012, o que dizer? Os fundamentos para os bons preços persistem, os estoques mundiais ainda estão abaixo da média, a demanda segue aquecida entre os emergentes. Alguns preços já caíram por causa da crise e da debandada dos especuladores, que se refugiaram no dólar. Com isso, a renda rural não caiu aqui, uma vez que o dólar se valorizou nesse processo.

O que pode mudar? Se a crise se aprofundar mais e durar mais tempo do que o esperado, poderá afetar a demanda entre os emergentes, e as coisas se complicariam.

Por outro lado, a China, grande compradora mundial de commodities, tem uma inflaçãozinha teimosa e redução do crescimento. Por enquanto, nada grave, mas pode piorar. Nenhum desses pontos negativos é provável, mas ambos são possíveis, de modo que é bom deixar as barbas de molho.

Vamos colher uma safra com custos maiores, o que reduzirá as margens líquidas em 2012. Nada muito sério, mas... Resta são Pedro, que não nos falte, de mãos dadas com La Niña.

Portanto, podemos desejar um Feliz Ano-Novo sem muitos sustos previsíveis. Que assim seja!

ROBERTO RODRIGUES, 69, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 14 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Marcelo Neri

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