Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Gideon Rachman

A difícil cooperação internacional

Neste ano será difícil que os grandes líderes encontrem soluções para os problemas econômicos mundiais

Os esforços para resgatar a economia mundial neste ano serão prejudicados por um paradoxo político perigoso. Quanto mais necessária for a cooperação internacional, mais difícil será obtê-la.

O ano começa com um mundo ainda sob a sombra da ameaça da maior crise econômica pós-1945. Mas, à medida que a posição econômica se deteriora, as ações requeridas dos líderes nacionais se tornam cada vez mais drásticas e mais difíceis de defender perante o público interno: participar de grandes resgates a países indigentes, subsidiar bancos e executivos financeiros impopulares, trabalhar pacientemente com países vistos por boa parte do eleitorado de uma nação como falidos ou desonestos.

Neste ano, os líderes mais importantes do planeta serão instados a fazer tudo isso -e encontrarão dificuldade ainda maior para obter resultados. As condições de recessão, instabilidade e pânico que exigem cooperação internacional também tornam os eleitorados mais irados e menos generosos.

As pressões políticas produzidas por uma crise econômica internacional impediram que a União Europeia enfrentasse de maneira efetiva os problemas de dívida da Europa. Ao longo do ano, é provável que o problema se agrave porque muitos países importantes realizarão eleições ou mudanças de liderança que podem tornar difícil para eles dedicar grande energia a esforços diplomáticos. Haverá eleições presidenciais nos EUA, na França e na Rússia -e a liderança chinesa também será substituída antes do final do ano.

Mas as maiores demandas serão feitas a um país no qual não haverá eleições. Como em 2011, o mundo pedirá que a Alemanha forneça o dinheiro e a liderança intelectual necessários para tirar a zona do euro da beira do abismo.

No entanto, a Alemanha reluta seriamente em abrir o talão de cheques mais uma vez. Em vez disso, vem dedicando sua energia à criação de um tratado europeu que imponha limites draconianos aos deficit -uma política que é irrelevante para a crise da dívida no curto prazo e que pode ser contraproducente no longo prazo. O comportamento da Alemanha só é explicável se levarmos em conta o contexto de sua política interna. As políticas adotadas pela chanceler Angela Merkel são ditadas pelo desejo popular de que a Alemanha não financie novos resgates na Europa.

Se observarmos a situação em todo o mundo, encontraremos a mesma atitude da parte dos demais líderes. O principal parceiro da Alemanha na Europa nos próximos meses será a França, que estará ocupada com a eleição presidencial.

Nicolas Sarkozy tentará levar quaisquer mudanças impostas pela crise para depois do segundo turno da eleição, marcado para 6 de maio, e ao mesmo tempo se proteger de acusações da esquerda e da extrema direita no sentido de que exagerou e cedeu soberania demais diante da impaciência alemã.

E quanto aos EUA? No que tange às agonias da zona do euro, os norte-americanos ficariam mais que satisfeitos em serem dispensados de colaborar. Qualquer discussão de assistência internacional será reprovada em ano eleitoral. O desejo de Barack Obama é que os europeus resolvam seus problemas e evitem lançar o mundo em uma nova recessão antes de os norte-americanos irem às urnas em novembro.

Com a introspecção dos EUA, haverá quem pense na China como fonte de dinheiro e liderança. Isso começou a acontecer de modo visível em 2011, quando autoridades da União Europeia viajaram a Pequim em um esforço humilhante e mal sucedido de despertar o interesse da China em adquirir montantes maiores de títulos de dívida europeus.

Mas a liderança do Partido Comunista chinês também dedicará boa parte do ano a uma disputa de cargos. A tendência chinesa a dar prioridade aos assuntos internos se verá acentuada por um crescente nervosismo quanto à instabilidade política e econômica no país. Isso pode significar que a China tenha pouca energia para dedicar a esquemas elaborados de cooperação internacional.

Neste ano, podemos esperar que a política nos entretenha com o espetáculo de suas eleições, mas não que ofereça soluções para os problemas mundiais.

GIDEON RACHMAN é colunista de política internacional do "Financial Times".
Tradução de PAULO MIGLIACCI.

AMANHÃ EM MERCADO:
Maria Inês Dolci

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.