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Análise

Tablet da Apple se apresenta como um clássico ano 2012, modelo 2011

LULI RADFAHRER
COLUNISTA DA FOLHA

Já se foi o tempo em que o Vale do Silício produzia computadores e seus lançamentos coincidiam com descobertas tecnológicas.

Hoje, época em que empresas como Apple, HP e Dell retiraram o "Computer" do nome e feiras estão mais para eventos de marketing do que para ambientes de inovação, cada lançamento torna a indústria de produtos eletrônicos mais parecida com a automobilística: novos lançamentos anuais tomam a atenção da mídia sem trazer efetivamente algo novo.

Vítimas de um calendário que os força a lançar produtos apressados, incompletos e defeituosos, muitos fabricantes sacrificam o ciclo de vida dos produtos, lançando versões antes de um "feedback" amplo de seus consumidores e, naturalmente, repetindo os mesmos erros.

Boa parte dos produtos lançados ontem é pouco mais do que protótipos arrumados, prontos para serem corrigidos na próxima versão.

Esse modelo, o "beta" perpétuo, tão popular nas ferramentas e serviços web, não faz sucesso no mundo do hardware. Consumidores não gostam de comprar algo que não funciona nem de ver nos lançamentos seguintes os recursos que já deveriam ter sido implementados.

Foi o que aconteceu com o iPhone, lançado em sua versão original sem 3G, o que levou a um fracasso no Japão até que a versão seguinte reparasse o erro. O novo iPad tem o display do iPhone 4, a câmara do iPhone 4S, a mesma vida útil de bateria e a mesma capacidade de memória. É mais pesado que o iPad 2. O que ele tem de novo?

A Apple ainda está em lua de mel com seus consumidores. Os mais antigos se orgulham de sua fidelidade. Os novos, fascinados com a interface, não se habituaram a ponto de reconhecer defeitos. Mas isso muda rápido.

Como Motorola e Nokia bem o sabem, a glória dura pouco. Desabastecimento de lojas, antenas com defeito, sistemas fechados, crises de produção na China e preço alto podem acabar com a festa, levando os consumidores, fúteis e mimados, a trocar de plataforma por outra que lhes traga maiores benefícios.

Por enquanto, esse horizonte ainda está longe da Apple, mas ele se aproxima a cada novo "não lançamento".

A fórmula de versões anuais de produtos para alimentar (e inflacionar) o mercado se desgasta rapidamente. Quem não trouxer ideias novas corre o risco de se tornar um "clássico", repetidor de sucessos do passado, relegado a coleções de nostalgia.

folha@luli.com.br

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