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Cifras & Letras CRÍTICA BRASIL Obra compara a maratonista país em desenvolvimento Para autor, Brasil estaria pronto para uma 'era de grandes oportunidades'
DE BRASÍLIA A premissa é tentadora: um país em busca do desenvolvimento é uma espécie de maratonista que precisa escolher entre as possíveis estratégias ao longo do trajeto. Nessa corrida "há um elemento de solidão, de ter de fazer o próprio caminho e fazer o esforço próprio". É assim que "A Solidão do Corredor de Longa Distância" (Ipea), de João Paulo dos Reis Velloso, procura imprimir um tom épico e algum colorido literário a um tema sujeito por natureza a impasses teóricos e divagações bizantinas. O título repete o de um romance publicado em 1959 no Reino Unido, que depois serviu de inspiração para um filme e uma música da banda metaleira Iron Maiden. Mas, ainda que volte ao barroco ibérico para narrar a saga brasileira, o livro não demora a ser propositivo. Ex-ministro do Planejamento do regime militar, Reis Velloso, 80, não é economista de facção. Desde 1988 está à frente do Fórum Nacional, que reúne anualmente autoridades e especialistas de diferentes áreas e correntes para o debate da agenda nacional. "A Solidão..." se baseia nas discussões de 2011. O texto aponta, na história recente do país, "três grandes concepções", ou períodos, em que combinações de medidas ambiciosas produziram saltos de desenvolvimento: as eras Vargas, JK e Geisel. O Brasil estaria pronto, agora, para uma "era de grandes oportunidades", ou sua quarta "grande concepção". Para tanto, é apresentada uma lista de providências que inclui de uma reforma política para reduzir o número de partidos a um novo sistema de transporte coletivo à base de trilhos; do aproveitamento do petróleo do pré-sal à educação de qualidade; do ajuste fiscal ao avanço da eletrônica orgânica. A essa altura do arrazoado é evidente que a obra revela, desde a analogia do título, cacoetes do pensamento assim chamado desenvolvimentista, que voltou à moda na América Latina em geral e no Brasil em particular. COMPARAÇÃO Comparar o desenvolvimento a uma corrida corresponde a imaginar que países são adversários na busca pelo progresso; como se fosse preciso que, para um ganhar, outros tivessem de perder. Noções assim já levaram a restrições ao comércio e ao investimento externo. Já a imagem do corredor que toma e executa sozinho suas decisões evoca a fantasia de um governo clarividente e onipotente, capaz de identificar e fomentar setores de maior potencial, articular conglomerados industriais, universalizar a inovação. Não por acaso, o receituário soa pouco verossímil em um cenário de democracia e abertura econômica -em que a presidente Dilma Rousseff já estaria no lucro se conseguisse conter a queda do dólar e as rebeliões do PMDB. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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