Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Cifras & Letras

CRÍTICA BRASIL

Obra compara a maratonista país em desenvolvimento

Para autor, Brasil estaria pronto para uma 'era de grandes oportunidades'

1959/Divulgação
Juscelino Kubitschek na inauguração da representação da Volkswagen no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP)
Juscelino Kubitschek na inauguração da representação da Volkswagen no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP)

GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

A premissa é tentadora: um país em busca do desenvolvimento é uma espécie de maratonista que precisa escolher entre as possíveis estratégias ao longo do trajeto. Nessa corrida "há um elemento de solidão, de ter de fazer o próprio caminho e fazer o esforço próprio".

É assim que "A Solidão do Corredor de Longa Distância" (Ipea), de João Paulo dos Reis Velloso, procura imprimir um tom épico e algum colorido literário a um tema sujeito por natureza a impasses teóricos e divagações bizantinas.

O título repete o de um romance publicado em 1959 no Reino Unido, que depois serviu de inspiração para um filme e uma música da banda metaleira Iron Maiden. Mas, ainda que volte ao barroco ibérico para narrar a saga brasileira, o livro não demora a ser propositivo.

Ex-ministro do Planejamento do regime militar, Reis Velloso, 80, não é economista de facção. Desde 1988 está à frente do Fórum Nacional, que reúne anualmente autoridades e especialistas de diferentes áreas e correntes para o debate da agenda nacional. "A Solidão..." se baseia nas discussões de 2011.

O texto aponta, na história recente do país, "três grandes concepções", ou períodos, em que combinações de medidas ambiciosas produziram saltos de desenvolvimento: as eras Vargas, JK e Geisel. O Brasil estaria pronto, agora, para uma "era de grandes oportunidades", ou sua quarta "grande concepção".

Para tanto, é apresentada uma lista de providências que inclui de uma reforma política para reduzir o número de partidos a um novo sistema de transporte coletivo à base de trilhos; do aproveitamento do petróleo do pré-sal à educação de qualidade; do ajuste fiscal ao avanço da eletrônica orgânica.

A essa altura do arrazoado é evidente que a obra revela, desde a analogia do título, cacoetes do pensamento assim chamado desenvolvimentista, que voltou à moda na América Latina em geral e no Brasil em particular.

COMPARAÇÃO

Comparar o desenvolvimento a uma corrida corresponde a imaginar que países são adversários na busca pelo progresso; como se fosse preciso que, para um ganhar, outros tivessem de perder. Noções assim já levaram a restrições ao comércio e ao investimento externo.

Já a imagem do corredor que toma e executa sozinho suas decisões evoca a fantasia de um governo clarividente e onipotente, capaz de identificar e fomentar setores de maior potencial, articular conglomerados industriais, universalizar a inovação.

Não por acaso, o receituário soa pouco verossímil em um cenário de democracia e abertura econômica -em que a presidente Dilma Rousseff já estaria no lucro se conseguisse conter a queda do dólar e as rebeliões do PMDB.

A SOLIDÃO DO CORREDOR DE LONGA DISTÂNCIA
AUTOR João Paulo dos Reis Velloso
EDITORA Ipea
DOWNLOAD Em www.ipea.gov.br
AVALIAÇÃO Regular

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.