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John Gapper

As empresas devem ajudar os EUA

É preciso que empresas e Estados ajam juntos para o país recuperar sua vantagem competitiva

A grande questão que os EUA precisam enfrentar -determinar se sua economia será capaz de retomar sua vantagem competitiva e prover empregos bem pagos e em número suficiente- foi deixada de lado nas primárias republicanas.

Rick Santorum acusou Barack Obama de ser "um esnobe" por encorajar todos os cidadãos a fazer pelo menos um ano de curso superior ou estudo profissionalizante.

Essa forma de insensatez partidária torna mais difícil para os EUA obterem a cooperação apolítica entre empresas, instituições educacionais e governos estaduais, que seria a melhor esperança para restaurar a porção central de sua economia, que parece cada vez mais oca.

Mitt Romney é um candidato rígido e pouco inspirador, mas suas ideias para promover um avanço na competitividade são decentes. Ele provavelmente concordaria com as pessoas que ouvi durante o lançamento de um esforço de professores e ex-alunos da escola de administração de empresas de Harvard para responder a esse desafio.

Duvido que Santorum pudesse se interessar pela proposta, especialmente pelo apelo de Michael Porter, professor de Harvard, por apoio maior do setor empresarial aos "bens comuns" -educação e infraestrutura estatais.

Para progredir, os EUA precisam abandonar dois temas que ganharam destaque nas primárias. Um é que o governo deveria simplesmente "sair do caminho" e permitir que as empresas prosperem e empregos sejam criados; o segundo é que mercados livres produzem inerentemente bons resultados sociais.

A segunda afirmação pode proceder no plano mundial -a derrubada das barreiras comerciais e regulatórias propiciou avanço da prosperidade nas economias emergentes-, mas não se aplica aos EUA. No país, os trabalhadores com nível de educação mais baixo enfrentaram o outro lado do fenômeno -perda de empregos e de segurança econômica-, enquanto os formandos de Harvard prosperavam.

Os EUA enfrentam problemas estruturais que se agravaram nos últimos 20 anos. Eles não poderão ser resolvidos por Washington, cheia de dívidas; é preciso que Estados e empresas tomem a liderança.

E têm de agir juntos porque os EUA enfrentam um problema coletivo. Embora seja racional para uma multinacional americana transferir produção ao exterior -e, com ela, empregos-, o efeito coletivo dessas decisões coloca em risco a sociedade do país -e o mercado interno do qual essas empresas dependem.

A economia gerou empregos novos à razão de 2% dos existentes ao ano, até 2001, quando esse indicador começou a cair. Os salários médios estagnaram, e os benefícios aos trabalhadores foram reduzidos.

Parte dessa mudança é irreversível -a ideia de que um candidato seja capaz de restaurar empregos bem pagos para trabalhadores de baixa capacitação é ridícula.

As pessoas que têm apenas educação secundária enfrentarão um período difícil. Fazer com que as companhias invistam na criação de empregos para trabalhadores mais capacitados requererá esforço mais amplo de cidades e Estados.

O investimento de Washington em tecnologia e na saúde, depois da Segunda Guerra, via pesquisa militar e médica, teve efeitos imensamente benéficos. Ajudou a estabelecer universidades de pesquisa como Harvard e Stanford -e facilitaram a criação do Google e do Facebook.

Afirmar que empresas e Estados poderiam fazer mais se agissem juntos não deveria causar controvérsias. Como diz o professor Porter, "contribuir para o bem comum não é questão de caridade, patriotismo ou filantropia. É questão de promover a sustentabilidade. Estamos permitindo que as companhias norte-americanas saiam perdendo".

O discurso de John Kennedy que vem atraindo mais atenção recentemente tratava da separação entre igreja e Estado, em 1960. Santorum comentou que o texto "dá vontade de vomitar". O melhor foco seria seu discurso de posse em 1961, no qual ele conclamou os norte-americanos a "não pergunt[ar]em o que seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país".

As empresas norte-americanas deveriam atender a esse pedido, tanto para preservar sua legitimidade quanto em benefício próprio.

JOHN GAPPER é editor-associado e colunista do "Financial Times", jornal em que este artigo foi publicado originalmente.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

AMANHÃ EM MERCADO:
Gustavo Cerbasi

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