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Mario Mesquita

Revisão trimestral

Os EUA enfrentam o risco de se deparar com um fortíssimo ajuste fiscal logo no início de 2013

O PRIMEIRO trimestre se encaminha para o final e até o momento a economia mundial teve desempenho um tanto melhor do que o antecipado. As melhores notícias seguem vindo dos EUA, a situação da Europa continua ruim, mas isso não surpreende, ao passo que a China dá sinais de desaceleração moderada.

Nos EUA, o mercado de trabalho vem criando empregos de forma vigorosa, e apenas uma parcela reduzida desse movimento pode ser atribuída ao inverno ameno.

As vendas de veículos, que tendem a antecipar tendências gerais no segmento de duráveis, seguem em ritmo próximo a 15 milhões de unidades por ano, considerado saudável, e mesmo o setor imobiliário residencial começa a mostrar certa recuperação.

Olhando adiante, a economia americana convive com três incógnitas e um risco. Entre as primeiras, cabe mencionar que a queda do desemprego tem sido mais rápida do que sugere a atividade econômica, o que suscita a expectativa de que venham a convergir nos próximos meses -não está claro se a convergência se dará pela desaceleração da queda do desemprego ou pela aceleração do crescimento.

Há também incerteza sobre os possíveis efeitos da crise europeia e de uma possível alta nos preços do petróleo sobre o ânimo dos consumidores americanos.

O que é certo é que os EUA enfrentam o risco de se deparar com um fortíssimo ajuste fiscal, com estimativas que vão de 3% a 4% do PIB, logo no início de 2013. Isso porque diversos cortes de impostos serão automaticamente revertidos, ao mesmo tempo em que cortes de despesas seriam automaticamente implementados. Esse ajuste já está contratado pela legislação vigente.

É fato que, com alguma criatividade, parte do ajuste pode ser postergada, mas, mesmo que o choque fiscal seja dois terços ou a metade do contratado, o impacto sobre o ritmo de crescimento da demanda seria importante. Seria preciso aprovar legislação para evitar esse problema, o que requer um grau de cooperação entre democratas e republicanos que tem se mostrado raro.

Na Europa, o risco de crise bancária parece ter sido afastado pela oferta de liquidez do BCE. Mas o acesso ao crédito por parte de famílias e empresas continua restrito, exceto na Alemanha. A atividade econômica parece ter melhorado um pouco depois do mergulho no último trimestre de 2011, mas o desemprego segue elevado e em alta -podendo, por exemplo no caso da Espanha, aproximar-se de 30%.

As perspectivas para o continente seguem ligadas crucialmente ao desenrolar da crise da dívida, mas são também vulneráveis às altas do preço do petróleo e, também, a crescente ruído político.

Teremos nos próximos meses eleições na Grécia e, mais importante, na França (onde a campanha vem acumulando uma retórica protecionista preocupante), além de um referendo na Irlanda.

A China parece caminhar para um cenário de desaceleração suave, com mais aspectos de continuidade do que de descontinuidade.

A redução da meta de crescimento para 7,5% não parece ser de todo crível, dado que a maioria dos observadores do cenário chinês acredita em expansão entre 8% e 8,5%.

O entusiasmo pelo rebalanceamento da economia, com maior ênfase na demanda doméstica do que na externa, parece ter arrefecido.

Por um lado, as autoridades indicam em pronunciamentos públicos que seguem decididas a esfriar o setor imobiliário; por outro, declaram que a taxa de câmbio teria encontrado um nível de equilíbrio.

Finalmente, não devemos esquecer que a China vive um ano de transição, um processo que sempre pode causar certa trepidação nos mercados, independentemente do regime político.

Mas, ainda que um retorno às fortes políticas expansionistas de 2009 pareça improvável, a inflação moderada abre espaço para novas rodadas de estímulo, provavelmente por meio de adicionais reduções no compulsório bancário.

Em resumo, ainda que exista incerteza remanescente, pode estar se aproximando o momento em que os riscos para a economia mundial, de longa data majoritariamente negativos, se tornariam mais simétricos.

MARIO MESQUITA, 46, doutor em economia pela Universidade de Oxford, escreve às quartas-feiras, a cada 14 dias, neste espaço.

AMANHÃ EM MERCADO:
Alexandre Hohagen

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