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Ricos de NY pagam até R$ 13 mil por mês por babás "dos sonhos"

A paulista Luana Gatti, 40, tem salário anual de US$ 85 mil para cuidar de quatro crianças

Profissionais devem apresentar bom currículo e ter disponibilidade para viajar com os patrões

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

"Sua babá dos sonhos está aqui", promete o anúncio, explicando que, além de uma longa lista de dons com crianças, a moça conserta tudo, foi à escola de culinária, trabalha em Mac e PC e é ótima em patinação artística.

Estamos na Agência Pavillion, um universo paralelo em Nova York onde a crise econômica não existe e ainda emprega mordomos e aias -aquela serviçal que ajuda a senhora a se vestir e zela por seu guarda-roupa.

Aqui, babás recebem em média US$ 85 mil ao ano (ou R$ 13 mil por mês), governantas sabem jogar golfe, uma segunda língua aparece na maioria dos currículos.

"Algumas pessoas que ligam aqui nem sabem bem o que faz um mordomo, mas querem um", diz Keith Greenhouse, presidente-executivo da agência que comanda com seu irmão, Cliff, no papel de presidente.

Especializada em funcionários domésticos há 50 anos (a quem os simpáticos irmãos Greenhouse, que tocam o negócio desde que o pai lhes repassou, em 1986, dizem "representar", assim como agentes de artistas) e conhecida na bolha de ouro onde vive sua clientela, a Pavillion foi apresentada ao mundo pela revista do "New York Times".

A estrela da reportagem era Zenaide Muneton, babá brasileira que recebe por mês US$ 15 mil (mais US$ 3.000 para o aluguel) e cujo nome na última sexta-feira aparecia 168 mil vezes no Google.

Na visita da Folha, Zenaide estava na Califórnia -ela tem um prédio na cidade.

Mas a reportagem encontrou Luana Gatti, 40, salário anual de US$ 85 mil, segundo seus agentes, "porque ela quer manter sua própria vida e trabalhar 40 horas por semana" (Luana diz que são na verdade 12 horas por dia, mas que recebe os extras).

Paulista criada em Porto Alegre, Luana está nos EUA desde 1989. "Completei 18 anos em novembro e viajei em 1º de dezembro", conta. "Me encantei e fiquei."

Como é comum nesses casos, Luana não tinha visto para trabalho e começou no mercado informal, limpando casas e cuidando de crianças -até optar só pelo segundo trabalho, mais coerente com sua formação no magistério.

"Só depois vi como a primeira família [com quem trabalhei] me explorava." Ela ganhava US$ 160 por semana, 10% do que ganha hoje.

Cliff Greenhouse diz que a rota é comum, e imigrantes irregulares ainda são, na sua estimativa, 90% do mercado de trabalho doméstico nos EUA (não há dados oficiais).

"Para mim, isso equivale a incentivar o tráfico humano", diz ele, enumerando casos noticiados de abusos e trabalho escravo.

A babá brasileira, como costumava acontecer antes de uma mudança na lei migratória nos anos 90, conseguiu regularizar sua situação com patrocínio dos patrões.

Vendo Luana em ação, em uma casa de cinco pisos e quatro crianças de 4 a 11 anos no Upper East Side, não é difícil entender por que ela ganha o que ganha.

Ela é bem mais que uma babá -na prática, é a gestora da casa para o casal que a emprega, ambos executivos do setor financeiro com uma agenda lotada de viagens: não só decide o lugar onde as crianças farão seus cursos extraescolares e organiza tudo relativo aos pequenos como compra o que falta em casa, inclusive móveis.

"Meu pai, quando soube que eu era babá, parou de falar comigo. Não admitia -eu tive babá na infância", lembra. "Hoje, que ele entende o que faço, tem orgulho."

Os meninos a respeitam e atendem suas ordens em voz firme e inglês perfeito. Ao mesmo tempo, parecem se divertir em sua companhia.

Casada com um porteiro, Luana lamenta que a família se muda para a China em agosto, mas o marido não topou que eles a seguissem.

Como fez da última vez, contará com a Pavillion para se recolocar. "Referência é a coisa mais importante nesta área", explica. "E a agência protege. Eu tenho seguro-saúde, eles pagam meus impostos. É uma segurança."

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