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Análise

Consequências dos cortes de juros podem ser imprevisíveis

A concorrência está estabelecida, e os clientes só têm a ganhar com essa cruzada contra os juros; Não será surpresa se taxas mais baratas passem a estimular um aquecimento excessivo do mercado interno

GILBERTO BRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O pacote de redução de juros anunciado pelo Banco do Brasil e pela Caixa colocou finalmente os juros praticados no Brasil dentro de padrões econômicos razoáveis e sustentáveis no longo prazo?

Com a intervenção da presidente Dilma Rousseff, os bancos públicos promovem um drástico corte em diversas linhas de produtos financeiros. No Banco do Brasil, por exemplo, a taxa do cheque especial caiu para o equivalente a um quinto em relação à taxa antes praticada.

A primeira consequência é que os bancos privados estão preparando reações e devem propor um pacote de medidas de redução de suas margens de juros, além, obviamente, de clamarem por estímulos fiscais e regulatórios. A concorrência está estabelecida, e os clientes bancários só têm a ganhar com essa cruzada contra os juros. Não será surpresa se, em pouco tempo, taxas mais baratas passem a estimular um superaquecimento do mercado interno brasileiro.

Além de jogar álcool na fogueira do consumo, as medidas do pacote promovem um momento único para os endividados renegociarem as suas dívidas, fazerem acordos em condições aceitáveis e limparem o nome nos serviços de proteção ao crédito.

Até porque, entre os especialistas, há dúvidas se esse patamar de juros será sustentado por muito tempo.

Para que esse cenário de juros módicos se mantenha e se afirme como um novo padrão real da economia, é necessário que a diminuição das margens praticadas seja compensada por um crescimento expressivo do volume das transações efetuadas, de modo a garantir os lucros das instituições financeiras.

Ao mesmo tempo, o governo deve manejar para que uma eventual explosão de consumo não ameace ainda mais as metas de inflação.

O jogo ficou pesado e, se comparado a uma partida de pôquer, todas as fichas na mesa estão sendo apostadas numa única rodada.

O governo está comandando o baralho e distribuindo as cartas entre os apostadores do mercado financeiro, que por sua vez pagarão para ver o resultado.

Se o consumidor interno crescer apoiado na redução dos juros, com a inflação razoavelmente controlada, o governo ganhará o jogo e dividirá a vitória com os bancos públicos e privados. Se o governo tiver errado a mão, as consequências serão imprevisíveis e podem comprometer o ano. A aposta foi alta e jogo está feito, só nos resta torcer pelo resultado.

GILBERTO BRAGA é professor de Finanças do Ibmec-RJ
gbraga@ibmecrj.br

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