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Alexandre Hohagen

Neymar no Vale do Silício?

É preciso investir na criatividade do brasileiro para que o próximo Instagram seja criado aqui

SÃO PAULO, 13 de março, 20h. Restaurante luxuoso, caro e badalado no bairro dos Jardins (São Paulo). Entro com um grupo de estrangeiros da empresa, em visita ao Brasil.

Meus convidados são jovens, porém conhecidos e experientes profissionais do Vale do Silício, nos Estados Unidos -berço da tecnologia e da inovação mundial. No caminho para a mesa percebo alguns olhares em nossa direção. Sentamos.

Em poucos minutos, um dos presentes se aproxima da nossa mesa. Trata-se do chefe de um grande fundo de investimento norte-americano, que voltou de uma temporada na China e agora está no Brasil em busca de oportunidades de negócio.

Em duas horas, mais de 20 estrangeiros do mundo financeiro, todos conectados, atentos, repletos de ideias, se acercam. Esses investidores estrangeiros estão no Brasil em busca de algum talento local com capacidade de catapultar ideias e de multiplicar o dinheiro abundante dos fundos que investem em empresas nascentes de tecnologia.

Há pouco mais de um ano, a milhares de quilômetros de distância, o brasileiro Mike Krieger, estudante da Universidade Stanford, estava num galpão simples e sem luxo.

Nele, um grupo de pessoas atentas observava a apresentação de um aplicativo que ele acabara de criar com o colega Kevin Systrom. Dias depois, o Instagram é colocado para download na loja de aplicativo da Apple. Depois de 18 meses depois, é usado por mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo.

A trajetória meteórica do Instagram tem a ver com a mentalidade de Mike, que, desde cedo, sabia que as oportunidades no mundo da tecnologia tinham poucas chances de florescer no Brasil.

O brasileiro certamente percebeu que aqui o desafio de emplacar uma boa ideia infelizmente empaca em duas questões básicas: educação e incentivos financeiros.

Como estudantes de Stanford, ambos tiveram a oportunidade de participar de um programa exclusivo de nove meses dedicado a 12 estudantes de destaque, que todo ano são selecionados a dedo pela nata acadêmica da universidade.

Durante esses meses, os estudantes aprendem técnicas de como montar e fazer crescer uma empresa de tecnologia, têm aulas com os melhores professores do curso, além de estágio remunerado em promissoras startups e acesso a uma rede de profissionais, investidores e simpatizantes de tecnologia.

Essa rede de pessoas dispostas a investir é outro ponto crucial para o sucesso de empresas como o Instagram. Mesmo antes de ser lançada, a ideia de Mike e Kevin recebeu milhares de dólares de investidores que arriscaram seu dinheiro, acreditando no potencial do produto.

Assim como o Santos quer a todo custo manter Neymar no Brasil, chegou a hora de o país se estruturar para investir nos nossos talentosos empreendedores locais e manter os nossos Mikes por aqui também.

É hora de aproveitar o potencial fabuloso do Brasil, do crescimento da classe média, da expectativa de crescimento de utilização de tablets e smartphones, da chegada da banda larga a todos os municípios do país, tão alardeada pelo governo.

Acima de tudo, é preciso investimento na capacidade criativa e tecnológica do povo brasileiro para que o próximo Instagram seja criado aqui, investido por aqui e cresça do Brasil para o resto do mundo.

Em seu artigo sobre inovação para o setor público, Nizan Guanaes pediu algumas ideias. Que tal algo simples: vamos copiar Stanford e implantar um curso de empreendedorismo em tecnologia voltado ao serviço público? Não digo criar um projeto para ser simplesmente doado ao governo; estou falando de tecnologia sustentável e rentável, de utilidade pública, dedicada ao uso do cidadão, coisas para melhorar a nossa vida. Ideias não vão faltar. Talento jovem, muito menos.

Um projeto como esse poderia criar um círculo virtuoso, fazendo com que mais fundos de investimento dedicados a empresas iniciantes -anjos, capital semente e capital de risco- aportassem por aqui.

Com um pouco de vontade, foco e algumas cabeças privilegiadas para ajudar esses jovens neste mar de oportunidades, não tem como dar errado.

ALEXANDRE HOHAGEN, 44, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina. Em 2005, fundou a operação do Google no Brasil e liderou a empresa por quase seis anos. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.
www.facebook.com/colunadohohagen

AMANHÃ EM MERCADO:
Luiz Carlos Mendonça de Barros

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