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Julio Vasconcellos

Como manter sua alma inovadora

Mesmo que sua empresa seja inovadora, sempre virá uma capaz de desenvolver uma solução ainda melhor

NA SEMANA passada, fiz palestra em uma conferência em Kellogg, um dos programas de MBA mais bem conceituados dos Estados Unidos. Uma das perguntas da plateia foi que uma empresa pode se manter sempre inovando.

Minha resposta foi simples: não existe uma resposta. Poderia ter repetido tudo aquilo que já foi dito 10 mil vezes sobre o dilema do inovador, sobre modelos de criatividade ou sobre muitos outros conselhos clichês. Mas decidi falar o que realmente penso: quanto maior a sua empresa se torna, mais difícil é manter aquela vantagem inovadora que você tinha quando eram duas pessoas trabalhando em uma garagem.

Acredito que exista uma série de coisas que você pode fazer para tentar ajudar, o máximo possível, aquela alma inovadora a sobreviver dentro da sua empresa. É triste, mas no final acredito que aquela alma inovadora morre. Pode ser em 5, 10 ou até 30 anos, mas inevitavelmente ela acaba desaparecendo. Essa é a realidade quanto mais cedo você a encarar, mais chance terá de sobreviver.

O primeiro passo é instituir três simples práticas que deverão ajudar sua empresa a manter o espírito inovador por mais algumas décadas (ou até alguém esquecer de continuar estimulando essas práticas).

Tudo começa com um bom entendimento do que está acontecendo de novo no mercado. Não basta ler no jornal uma coluna sobre inovação -é importante chegar o mais próximo das trincheiras para ver o que a mais nova leva de empreendedores está imaginando.

No caso da nossa empresa, patrocinamos algumas incubadoras e aceleradoras e participamos de outras como mentores ou jurados. Com isso, conseguimos ver de perto as maiores novidades do mercado e também cultivar um relacionamento com as novas gerações de inovadores. Isso leva não só a um aprendizado como também pode abrir as portas para uma contratação estratégica, uma aquisição ou parceria estratégica.

Em paralelo, é importante cultivar um ambiente dentro da empresa que estimule a criatividade e a inovação. O essencial é fomentar uma cultura em que errar faz parte do cotidiano, em que todo erro é visto como uma oportunidade de aprendizado. Seus colaboradores têm de ter a confiança de experimentar coisas novas e métodos diferentes, sem medo de serem punidos por escolhas ambiciosas e ousadas.

O último pilar é uma questão organizacional: proteger os inovadores. Para empresas grandes funcionarem bem, é necessário ter processos bem definidos e azeitados.

Infelizmente, bons processos geram um grau de inflexibilidade que facilmente sufocam qualquer projeto "fora da caixa". Por isso, é importante simular um ambiente de startup -grupos pequenos e autônomos de pessoas com espírito empreendedor, que conseguem avançar com rapidez e sem grandes distrações da empresa que os engloba.

O grupo de pesquisa Xerox Parc gerou grandes descobertas nos anos 1970 e 1980 por ter essa autonomia dentro da gigante Xerox. Hoje, vemos projetos com potencial transformador, como os óculos de realidade aumentada do Google, saindo do Google X, um grupo de projetos especiais liderado por Sergey Brin.

Embora existam alguns "ingredientes de inovação" como esses, vale a pena lembrar que não importa o quão inovadora a sua empresa consegue ser, sempre virá uma startup desconhecida capaz de desenvolver uma solução melhor.

Aceitando essa realidade, você pode se preparar para inovar por uma das formas mais eficazes que existem -aquisições e fusões. Existe um longo histórico de empresas inovando por meio da aquisição de equipes e de tecnologias.

A compra do Instagram pelo Facebook é um exemplo. Acho que, se Zuckerberg não enxergasse no Instagram um produto com o potencial de ameaçar a liderança do Facebook como ferramenta social, ele não teria gastado milhões por uma empresa ainda em sua infância.

Ao comprar o Instagram, Zuckerberg mostrou maturidade e humildade ao reconhecer que a maior ameaça à liderança de uma grande empresa inovadora não são os gigantes da indústria, mas, sim, produtos desenvolvidos por dois jovens trabalhando com garra e paixão.

JULIO VASCONCELLOS, 31, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.
julio.folha@yahoo.com

AMANHÃ EM MERCADO:
Rodolfo Landim

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