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Finanças Pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura

Você já deve ter lido o título acima centenas de vezes. Mas poucos levam a sério a afirmação nele contida.

Muitos investidores escolhem o fundo de investimento para suas aplicações financeiras com base na rentabilidade passada. E o que é pior: na rentabilidade passada de um período muito curto, algo entre um e três meses.

Aqui vão alguns comentários importantes para ajudar a entender o conceito e evitar cair na armadilha de tomar decisões de investimentos com base na rentabilidade passada.

OLHE PARA A FRENTE

A rentabilidade não se repete -ela pode ser maior ou menor, mas dificilmente será a mesma.

Se o resultado foi atraente, é bem provável que tenha sido gerado por um movimento relevante no mercado de ações, na taxa de câmbio ou na taxa de juros.

Outros fatores políticos e econômicos virão e podem provocar flutuações de preços muito distintas.

Para escolher a alternativa de investimento que faz mais sentido para você, é preciso olhar para a frente e avaliar sua expectativa em relação ao futuro.

Por exemplo, se você acredita que a taxa de juros vai cair, aplique em carteiras que investem regularmente em ativos de taxa prefixada.

O preço dos títulos sobe quando a taxa de juros cai, e a rentabilidade será superior à dos fundos que investem em títulos de taxa pós-fixada.

QUEM GANHA

A rentabilidade publicada é passada e foi paga aos cotistas que já estavam no fundo. Comprar cotas depois da vitória não significa que você poderá se beneficiar de alguma forma.

A rentabilidade é fruto de riscos que as carteiras dos fundos carregam e nada mais justo do que premiar o investidor que correu o risco.

Se parte desse ganho fosse paga a um investidor oportunista, que adere ao fundo depois que a estratégia se revela vencedora, não seria justo, não é mesmo?

MARCAÇÃO A MERCADO

Para assegurar que os ganhos (e as perdas) sejam creditados a quem de direito, os administradores dos fundos adotam um mecanismo denominado "marcação a mercado".

Cada ativo da carteira é precificado de acordo com seu valor de mercado, como se fosse ser comprado ou ser vendido naquele dia. E o valor da cota do fundo é calculado depois que todos os ativos foram precificados de acordo com esse critério.

Dessa forma, uma carteira cuja cota vale R$ 1 será negociada a R$ 1. Se assim não fosse, o administrador poderia patrocinar uma distribuição indevida de riqueza, transferindo dinheiro de um cotista para outro.

Entenda melhor com um exemplo. Suponha que o administrador do fundo cometa um equívoco e apure que o valor da cota é R$ 1,10, acima do valor justo e correto de R$ 1.

Serão beneficiados os cotistas que pedirem resgate nesse dia, já que receberão mais pelas suas cotas.

Serão prejudicados os cotistas que comprarem cotas nesse dia, pois pagarão mais caro e terão uma quantidade menor de cotas do que teriam se o valor delas estivesse mais baixo.

O PREÇO MUDA

Os fundos de renda fixa "índices" apresentaram uma invejável rentabilidade nos últimos meses.

Se você não estava nesses fundos e acha que está na hora de entrar, acreditando que a rentabilidade vai se manter bem acima da taxa DI como nos últimos meses, cuidado!

A oportunidade dessas carteiras já passou e premiou os investidores que detinham posições nesses fundos. Entrar agora, acreditando que a rentabilidade vai se manter no mesmo patamar, pode frustrar suas expectativas.

A maioria desses fundos investe em títulos atrelados a índices de preços, como a NTN-B, por exemplo, que paga a variação do IPCA mais uma taxa de juros prefixada, denominada cupom de juros. E os vencimentos desses títulos são longos, com prazos entre 10 e 20 anos.

A marcação a mercado dessas carteiras provoca uma flutuação importante no valor da cota, com volatilidade muito superior à dos demais fundos de renda fixa.

Isso acontece porque são três os fatores que afetam o preço dos títulos: a variação da inflação, a flutuação da taxa de juros e o prazo dos títulos.

O impacto da taxa de juros no preço é inversamente proporcional. Significa que, quando a taxa de juros cai, o preço sobe, e quando a taxa de juros sobe, o preço cai.

E a oscilação, para cima ou para baixo, será tanto maior quanto maior for o prazo do título até seu vencimento.

A Selic caiu para o patamar de 9% ao ano. Como o nível de inflação não se alterou, a taxa de juros pré do cupom das NTN-B também caiu e se encontra na faixa de 3,5% a 4,5% ao ano.

Como o prazo dos títulos é muito longo, essa queda na taxa de juros provocou importante valorização nos ativos da carteira que proporcionou a rentabilidade cobiçada.

O FUTURO

No patamar atual de juros, a possibilidade de novos ganhos expressivos nessas carteiras fica substancialmente reduzida. Há pouco espaço para quedas relevantes na taxa do cupom das NTN-B.

As oscilações dos próximos meses tendem a ser bem menores, com pequenos ajustes em busca do ponto de equilíbrio com a taxa Selic.

O risco potencial dessas carteiras é exatamente o caminho de volta. Se e quando a taxa do cupom da NTN-B subir, a marcação a mercado vai revelar uma queda no preço dos ativos.

E, mesmo que a alta dos juros seja discreta, não se esqueça de que o vencimento distante dessas carteiras potencializa o impacto.

No longo prazo, esses fundos tendem a oferecer rentabilidade muito interessante, principalmente para investidores cujo objetivo é preservar o poder de compra e proteger seu capital contra a inflação.

Entretanto, muita volatilidade pode ocorrer no meio do caminho. Esteja preparado.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do BMI ( Brazilian Management Institute), professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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