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Opinião

Facebook é lembrete de que amadores não devem escolher ações sem ajuda

STEVEN RATTNER
DO “FINANCIAL TIMES”

MILHÕES DE INVESTIDORES ENTREGAM SUAS ECONOMIAS A FUNDOS DE PÉSSIMO DESEMPENHO

É uma notícia aparentemente boa para as pessoas comuns: a mais aguardada oferta pública inicial de ações dos últimos anos -a do Facebook- incluirá uma porcentagem de ações destinadas aos pequenos investidores.

Meu conselho é: não compre. O Facebook é uma empresa extraordinária e suas ações podem disparar, mas a oferta pública inicial é um lembrete oportuno de que amadores não devem selecionar ações sem ajuda.

A tentação de mergulhar no Facebook é compreensível. Trata-se de empresa conhecida e sexy, com receitas em disparada.

O Google, o último dos gigantes do Vale do Silício a cair nas graças do público, apresentou bons resultados: suas ações registram mais de 700% de alta desde que chegaram à Bolsa, em 2004.

Mas, para cada Google ou Facebook, há diversos exemplos de fracasso. Ações que no passado atraíram procura intensa, tais como as da Pets.com, Webvan e eToys, só existem como lembranças dolorosas para os investidores.

Quando a TheGlobe.com, uma das primeiras empresas de mídia social, abriu o capital, em 1998, as ações tiveram o maior ganho em dia inicial da história dos mercados, até aquele momento, mas despencaram no ano seguinte (a empresa fechou em 2008).

Apesar de seus modelos de negócios mais duradouros, empresas de capital privado tampouco recompensaram quem participou de suas ofertas públicas iniciais.

FASCINAÇÃO

A fascinação das pessoas em administrar pessoalmente seus investimentos é algo peculiar.

Nenhum indivíduo realiza ele mesmo sua operação de apêndice ou redige sozinho um testamento.

Mas milhões de investidores buscam novas ofertas irresponsavelmente, entregam suas economias a fundos de péssimo desempenho, confiam em corretores de ações de baixo desempenho que só querem saber de comissões e tentam acompanhar os movimentos de mercado tirando e colocando dinheiro de determinadas ações, muitas vezes com maus resultados.

ESPECULAÇÃO

A tentação de especular -e é isso que os amadores terminam por fazer- é alimentada por uma profusão de revistas, livros e programas de TV que oferecem ideias sobre o que comprar, mas raramente dizem quando vender.

Lembre-se de que, nos EUA, os vendedores de produtos financeiros em geral não estão sujeitos a padrões éticos de responsabilidade fiduciária, o que significa que, diferentemente de médicos e advogados, são apenas vendedores glorificados e não profissionais liberais que têm o compromisso de recomendar apenas aquilo que serve ao interesse de seus clientes.

Para cada indivíduo ou fundo mútuo com mau desempenho, outro investidor está se saindo bem.

Muita gente está, mas se trata principalmente de fundos de hedge (de alto risco) e de companhias de investimento institucional aos quais o investidor médio não tem acesso.

Dada a frustração dos pequenos investidores com seus fundos e talvez até com famosos gestores de carteiras como Warren Buffett, é fácil compreender a tentação de agir sozinho. Mas é uma tentação à qual todos deveriam resistir.

É melhor aplicar seu dinheiro em fundos de índices, de baixo custo, e deixá-lo lá.

APOSENTADORIA

Para as pessoas cuja aposentadoria está mais distante, enfatizar as ações representa a melhor aposta -no longo prazo, a história e a teoria financeira nos ensinam que as ações quase certamente superarão os títulos e o mercado monetário.

Quando os anos dourados estiverem se aproximando, transfira o dinheiro para fundos de renda fixa e monetários, menos voláteis, que oferecem retorno garantido.

Quanto ao Facebook, compre como compraria qualquer objeto de coleção -pela alegria da posse ou para ter um belo certificado de ações em sua parede-, mas não o faça se depende desse investimento para a sua aposentadoria.

STEVEN RATTNER foi conselheiro do secretário do Tesouro dos Estados Unidos.
Este artigo foi publicado originalmente no "Financial Times".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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