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Análise Cana

Cotação do açúcar reage à desvalorização do real

PLINIO NASTARI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A importância do Brasil nas exportações mundiais de açúcar é, mais uma vez, demonstrada pela relação direta entre o preço mundial, cotado em Nova York, e a desvalorização do real ante o dólar. Essa é, a nosso ver, a causa principal da redução da cotação do açúcar, em dólar, verificada nas duas últimas semanas.

No mais, o atraso no início da moagem de cana na região Centro-Sul e a perspectiva de que a atual safra não trará a recuperação da oferta, afetada principalmente pela seca do ano passado e do início deste, indicam que o Brasil não será a origem a pressionar o mercado.

Em realidade, a queda no preço do açúcar advinda da desvalorização do real é, no longo prazo, benéfica para os produtores brasileiros, pois diminui o apetite expansionista de outros exportadores localizados na Tailândia, na Índia e na Austrália.

De outro lado, os preços de combustíveis continuam defasados por aqui. Apesar da acomodação dos preços internacionais da gasolina, as mudanças no câmbio ampliaram o diferencial entre os preços praticados nos mercados interno e externo.

Nesta semana, o preço médio da gasolina (base refinaria) chegou a US$ 0,56 por litro, sem impostos, enquanto no mercado internacional foi cotada a US$ 0,78 por litro, o que corresponde a uma defasagem de 26,6%.

A incerteza sobre o rumo da política de preços de combustíveis e o consequente desestímulo à instalação de novas unidades produtoras de etanol fazem com que permaneça aberta a pergunta sobre qual país irá atender a demanda mundial crescente de açúcar e de etanol. A demanda por açúcar tem crescido 2,3% ao ano, e a de etanol, 13% ao ano.

Devido à seca por quase três anos consecutivos, hoje o Brasil tem capacidade ociosa de moagem que estimamos em cerca de 130 milhões de toneladas de cana.

Mas já chegou a hora de serem programados novos investimentos, pois são precisos três anos em média até que uma nova unidade produtora entre em operação. Se não ocorrerem, os preços irão refletir o excesso de demanda, e os competidores do Brasil podem se sentir novamente estimulados.

Será uma perda de oportunidade não usar o potencial que a frota flex representa para utilizar combustível do ciclo Otto de origem renovável, utilizando sua capacidade de promover desenvolvimento descentralizado sustentável.

Enquanto medidas de estímulo ao consumo de automóveis são implementadas pelo governo devido a seu elevado efeito multiplicador, o mesmo se aplicaria ao setor agroindustrial, e em particular ao setor canavieiro, produtor do combustível nacional que os movimenta.

Para isso, é preciso entender que o etanol, como solução energética limpa e inteligente, pertence ao Brasil -e não aos agentes econômicos encarregados de produzi-lo. Produção adicional vai significar renda adicional para toda a cadeia de produção e preços mais baixos para os consumidores.

PLINIO NASTARI é mestre e doutor em economia agrícola e presidente da Datagro Consultoria.

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