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Múlti reduz remessa pela 1ª vez em 3 anos

Setores automotivo e financeiro puxam baixa de envio de recursos que não era registrada desde a recessão de 2009

Remessa de lucros e dividendos somam US$ 5,7 bi de janeiro a abril, 32% menos que igual período de 2011

GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

Com a produção industrial em queda e o dólar em alta, as multinacionais instaladas no Brasil reduziram a remessa de lucros e dividendos para suas matrizes pela primeira vez desde 2009, quando o país viveu uma recessão.

A redução, nos primeiros quatro meses do ano, foi puxada pelos setores automotivo e financeiro, nos quais atuam gigantes como as montadoras Fiat, Volkswagen, GM e Ford e os bancos Santander, HSBC e Citibank.

Segundo dados do Banco Central, as remessas totais de lucros e dividendos feitas por empresas para o exterior somaram US$ 5,7 bilhões no primeiro quadrimestre do ano, 32% abaixo dos US$ 8,4 bilhões contabilizados em período equivalente de 2011.

Trata-se de mais um sintoma da piora das expectativas para a economia, em especial na indústria, que tradicionalmente responde por mais da metade das remessas.

Os volumes vinham sendo crescentes nos últimos anos, devido à expansão da renda nacional e ao aumento da participação de estrangeiros no setor produtivo do país.

Desde a década passada, essa trajetória de alta só teve duas interrupções. A primeira, três anos atrás, foi a mais aguda, com queda de 57% no primeiro quadrimestre.

Na época, o Produto Interno Bruto brasileiro encolhia, sob o impacto do agravamento da crise internacional após a quebra do banco Lehman Brothers nos EUA.

Agora, o PIB cresce, mas em ritmo mais lento que esperavam o governo e o setor privado, o que levou a uma revisão geral, para baixo, das projeções para o ano.

Não por acaso, o setor que puxa a redução das remessas de lucros também é um dos que concentram as preocupações das autoridades: o governo Dilma Rousseff lançou no mês passado um pacote de medidas para estimular a compra de automóveis.

As remessas das montadoras caíram quase R$ 1,6 bilhão até abril. Entre bancos e outras instituições financeiras, a redução se aproximou dos R$ 700 milhões.

EFEITO CAMBIAL

Também contribuiu para a queda a escalada das cotações do dólar a partir de março. Como as empresas lucram em reais, mas fazem as remessas em moeda estrangeira, a desvalorização cambial diminui a saída de divisas por meio dessas operações.

Como analisa Paulo Pereira Miguel, economista da Quest Investimentos, trata-se de uma vantagem de privilegiar a atração de capital externo por meio de investimentos na produção -no passado, se recorria principalmente ao endividamento.

Quando o dólar sobe, é preciso usar mais reais para pagar a mesma conta de juros; já um mesmo lucro em reais significará uma saída menor de dólares. "É um mecanismo de ajuste", diz Miguel.

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