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Cifras & Letras

Crítica / sistema financeiro

História do Goldman Sachs detalha armações financeiras

Obra descreve tramas dentro do banco e a trajetória de flertes com políticos

Richard Drew - 4.jun.12/Associated Press
Operador trabalha na Bolsa de Nova York; livro mostra como banco lucrou com o estouro da bolha imobiliária em 2008
Operador trabalha na Bolsa de Nova York; livro mostra como banco lucrou com o estouro da bolha imobiliária em 2008

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

NO TOPO DA INSTITUIÇÃO, WEINBERG PASSOU A SER CHAMADO DE 'MR. WALL STREET'. APOIOU ROOSEVELT NO NEW DEAL E FOI FIGURA CENTRAL NA ARTICULAÇÃO DOS EUA PARA A SEGUNDA GUERRA

O CONTEXTO POLÍTICO E ECONÔMICO DA EVOLUÇÃO DA INSTITUIÇÃO NÃO É PREOCUPAÇÃO MAIOR DO AUTOR, QUE BUSCA REALÇAR QUALIDADES DE UMA CULTURA DE NEGÓCIOS

Transações bilionárias cevadas em esquemas de legalidade duvidosa, golpes corporativos, prisão, conflito de interesses, processos por assédio sexual, discriminação contra mulheres e negros.

Tudo isso faz parte de "Money and Power, How Goldman Sachs Came to Rule the World" (ou "Dinheiro e Poder, Como o Goldman Sachs Veio para Dominar o Mundo"), do jornalista norte-americano William Cohan.

A história do banco de investimento sediado nos Estados Unidos é cheia de solavancos. Flertando com políticos e a nata do empresariado, atravessou estouro de bolhas, recessões, riscos de quebra e processos que tentaram podar a sua ascensão, acusando-o de prejudicar clientes e burlar a concorrência.

Assim como as famílias de banqueiros Lazard e Lehman, o negócio do imigrante judeu alemão Marcus Goldman começou com loja de roupas. Em 1869 ele resolveu entrar no ramo financeiro, criando um escritório no porão de um prédio em Nova York.

O autor relata a sucessão de sócios e executivos que disputaram o poder no banco. Um dos pioneiros foi Sidney Weinberg, que, adolescente, viu que poderia ganhar dinheiro vendendo lugar na fila dos que buscavam sacar dinheiro durante a corrida a bancos em 1907.

No topo da instituição, Weinberg passou a ser chamado de "Mr. Wall Street". Apoiou Roosevelt no New Deal e foi figura central na articulação entre empresas e bancos no direcionamento da economia dos EUA para a Segunda Guerra Mundial.

Fazendo parte do conselho de várias companhias, o banco -então acusado de favorecer as grandes corporações- aproveitou o fim da guerra para crescer e maximizar as conexões construídas entre os capitalistas e o governo. O Goldman Sachs passou a ter acesso ilimitado ao poder, diz Cohan.

"Políticos precisam de dinheiro, e banqueiros anseiam poder", escreve.

TRAMAS

O autor relata como executivos migraram para o governo norte-americano e foram cuidar do Tesouro nos tempos de Clinton e Bush. Há, porém, poucas informações sobre a ligação do banco com os movimentos que derrubaram os controles sobre o mercado financeiro e fizeram a instituição deslanchar.

O jornalista prefere descrever as tramas dentro do banco. Mostra um ambiente competitivo e agressivo, no qual a regra sobre a prioridade ao cliente às vezes parece ser atropelada pelo interesse na obtenção de resultados e bônus. A manipulação da mídia é um dos pontos de destaque.

A obra trata de forma superficial o processo de internacionalização do banco -ícone na globalização da finança sem regulação. Como a atual crise europeia evidenciou, tentáculos do banco estão presentes em vários países e ex-funcionários foram atuar em diversos governos.

Só de passagem é citada a participação do Goldman Sachs nas privatizações pelo mundo dos anos 1990. Os vários negócios no exterior, que robusteceram o banco, não são analisados. O contexto político e econômico da evolução da instituição não é preocupação maior do autor.

O jornalista já fez outros livros sobre o mercado financeiro -"House of Cards", focado na quebra do Bear Stearns; "Last Tycoons", sobre a história do banco Lazard Frères, onde ele atuou.

Talvez por estar tão enfronhado no setor, Cohan às vezes é pouco didático na explicação dos mecanismos da engrenagem do banco.

LUCRO COM A TRAGÉDIA

O leitor não especializado pode se perder no arsenal de papéis financeiros, especialmente os fabricados no bojo da bolha imobiliária norte-americana e classificados pelo bilionário Warren Buffett como as verdadeiras "armas de destruição de massa".

O desmoronamento desse mercado acabou por desencadear a crise atual.

O livro mostra com excesso de detalhes como o Goldman Sachs lucrou com a tragédia: apostava contra o mercado de hipotecas e, por outro lado, embrulhava a papelada e a oferecia a clientes desavisados. Ao mesmo tempo.

Cohan busca realçar qualidades de uma cultura de negócios tida como baseada na meritocracia e captura dos melhores talentos.

Tentando se equilibrar, o autor traz um panorama rico em dados, documentos, entrevistas -as feitas sob condição de anonimato são as melhores-, mas perde a chance de conectar as mudanças no capitalismo com as metamorfoses do banco.

MONEY AND POWER
AUTOR William Cohan
EDITORA Random House
QUANTO US$ 17,95 (672 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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