Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Alexandre Hohagen

Chega de bullying

Campanha lançada em São Paulo visa estimular jovens e adultos a não aceitar as situações de bullying

Outro dia, minha filha menor chegou em casa reclamando por ter sido excluída das brincadeiras durante o intervalo na escola. Minha reação como pai foi tentar entender o que havia acontecido. Nada de mais. Esses pequenos conflitos fazem parte da infância.

A coisa mais importante, porém, foi a disposição que ela teve ao trazer o problema para a mesa. Discutiu abertamente e nós, familiares, a incentivamos a dialogar e a trazer outras situações de constrangimento que possam acontecer.

Lembro que quando entrei na faculdade sofri com o tradicional rito de passagem. Tive meu cabelo cortado, fui todo pintado, escreveram coisas constrangedoras e me fizeram desfilar nas ruas com outros tantos "bichos". Isso sem contar tantos outros episódios de trotes abusivos comuns nas faculdades.

Na minha época, o termo bullying não existia. Maltratar outra pessoa e excluí-la do convívio social, porém, não é fato novo. A situação pode acontecer em qualquer lugar, mas a grande incidência ainda está nas escolas e vitima principalmente jovens e adolescentes.

Pesquisa do IBGE mostra que três em cada dez estudantes brasileiros já sofreram bullying nas escolas. Em 2011, apenas nas instituições públicas de ensino, aconteceram entre 6.000 e 8.000 casos de bullying, segundo o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Infelizmente, nem todos os adultos que tomam conhecimento dessas agressões estimulam o diálogo com os jovens. Antigamente, voltar para casa e reclamar de alguma agressão na escola geralmente era rebatida com afirmações do tipo: cresça, seja forte, volte lá e revide.

Nem todos os agredidos têm estrutura psicológica e física para suportar tal situação. Tragédias como a do massacre de Columbine, em 1999, nos EUA, que resultou na morte de 13 alunos, e na tragédia de Realengo, no Rio de Janeiro, no ano passado, com 12 mortos além do assassino, são resultados de jovens impactados por algum tipo de agressão no passado.

Com o acesso às novas tecnologias, ficou evidente que há mais casos de bullying do que imaginamos. E também ficou mais fácil propagar tais crueldades, perseguições, agressões verbais e físicas.

Por outro lado, aliar tecnologia e educação e usar as ferramentas digitais, como redes sociais, tão próximas dos jovens podem ser formas importantes para reduzir o impacto e a incidência do bullying.

Nesta semana foi lançada no Brasil uma iniciativa chamada "Chega de Bullying: Não Fique Calado". O projeto tem o apoio de meios de comunicação, de ONGs, do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, da Secretaria da Educação do Estado e do Fundo Social de Solidariedade.

A ideia é simples e visa oferecer um trabalho voltado para a educação do tema e estimular que jovens e adultos assumam o compromisso em não aceitar situações de bullying, seja quando sofrerem algo, seja ao presenciarem algo.

A comunicação e o apoio de personalidades para reagir a tais abusos são fundamentais, já que nem sempre as vítimas de bullying encontram coragem suficiente para reportar a violência sofrida, tal como aconteceu com o depoimento da apresentadora Xuxa, em rede nacional, sobre as dores de ter sofrido abuso sexual.

A entrevista, divulgada na TV no mês passado, fez com que as ligações ao Disque Denúncia crescessem 30% nos dois dias seguintes ao vídeo, atingindo 285 mil chamadas.

Nos Estados Unidos, campanha semelhante à lançada no Brasil nesta semana gerou mais de 1 milhão de fãs dentro do Facebook e 130 mil pessoas tomaram uma atitude para prevenir o bullying, fosse com a gravação de vídeos, com publicação de fotos ou até mesmo compartilhando notícias e informações sobre os riscos e sobre as formas de prevenir esse tipo de violência.

Ter conteúdo à disposição nas redes sociais -hoje, alguns dos principais lugares de encontro de jovens do mundo todo- é uma das maneiras mais eficientes de entender e também de reagir ao bullying.

Para conhecer mais sobre a campanha brasileira, entre em www.facebook.com/chegadebullying.

ALEXANDRE HOHAGEN, 44, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina. Em 2005, fundou a operação do Google no Brasil e liderou a empresa por quase seis anos. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.
www.facebook.com/colunadohohagen

AMANHÃ EM MERCADO:
Luiz Carlos Mendonça de Barros

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.