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Protecionismo não cria bons empregos, afirma chefe da OMC

Para Pascal Lamy, dirigente da Organização Mundial do Comércio, Brasil precisa diversificar pauta de exportações

Francês, que participou da Rio+20, afirma que a política de câmbio da China está se movendo agora na direção correta

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Há sete anos diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o francês Pascal Lamy, 65, diz que criar barreiras à importação não ajuda a criar bons empregos. Para ele, o Brasil precisa tomar medidas para diversificar sua pauta de exportações.

Em entrevista à Folha durante a conferência Rio+20, Lamy também disse que a China está corrigindo sua taxa de câmbio, acusada por EUA e outros países de ser artificialmente desvalorizada.

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Folha - O que a OMC tem a ver com a conferência sobre desenvolvimento sustentável?

Pascal Lamy - Se você olhar para a declaração final da Rio+20, há muito sobre como o comércio aberto pode trabalhar para uma economia sustentável. Em relação à Rio-92, é uma das áreas nas quais há hoje mais compromissos com o comércio aberto, no sentido de reduções de tarifas sobre bens e serviços ambientais e de disciplinar subsídios à pesca.

Isso não é uma contradição com o fato de que muitos países, incluindo o Brasil, estão adotando mais medidas de proteção?

Isso é correto. Temos um estudo feito para o G20 com as medidas tomadas por países para restringir ou abrir o comércio que mostra que recentemente tivemos um saldo negativo, com mais medidas protecionistas. Isso é um sinal preocupante.

Mas, até onde eu sei, nenhuma dessas medidas teve a ver com proteção ambiental, mas com conteúdo local, antidumping, defesa comercial, aumento de tarifas.

Ainda há lugares neste planeta em que algumas pessoas acreditam que conter as importações protege os empregos. Não é o que os números dizem. Existe a necessidade de proteção em tempos de crise, para conter seus efeitos sociais, mas há muitas maneiras de proteger empregos sem cair no protecionismo.

O senhor pode ser mais específico? A que estudo está se referindo?

Temos estudos nossos e da Organização Internacional do Trabalho. Por definição, você importa onde sua economia não é competitiva e exporta onde é mais competitiva. Quando uma parte cada vez maior de suas exportações é feita de importações que você processa, proteger empregos no lado da importação pode preservar postos, mas leva à perda de empregos no setor exportador. E os que você protege são de menor qualidade, o que deteriora a competitividade de sua economia.

Isso, eu admito, depende do quanto o seu país está inserido nas cadeias globais de produção. É verdade que países como o Brasil e a Argentina, no momento, estão provavelmente menos inseridos nessas cadeias do que Chile, Peru ou Colômbia.

Mas, no final, o comércio brasileiro terá de se diversificar. As autoridades e as empresas brasileiras estão cientes de que concentração demais do comércio em commodities e matérias-primas é algo frágil, porque, no momento em que a economia chinesa desacelerar, o impacto nas exportações será maior.

Mas o Brasil terá de fazer essa diversificação sem proteger a indústria, como fizeram a Coreia do Sul e mesmo os europeus no passado?

Todo mundo cita esse exemplo da Coreia do Sul. A realidade é que essas economias se abriram, e a questão de você atribuir o sucesso em competitividade ao fato de que elas se protegeram ou ao fato de que se abriram é muito difícil de responder. Também provavelmente é verdade que, dados os novos padrões de comércio, em que a produção está localizada em diferentes países, as coisas não funcionam mais como funcionavam há 50 anos.

Quem está certo na disputa entre EUA e a China sobre manipulação do câmbio?

O que importa é que a China caminhe para uma maior conversibilidade de sua moeda, porque, no momento em que a moeda é conversível, a suspeita de manipulação do câmbio deixa de existir.

No documento aprovado na cúpula do G20, há o reconhecimento de que a política de câmbio da China está se movendo na direção correta.

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