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Investigação rastreou saída de recursos

Massa falida do Banco Santos obteve autorização judicial para a quebra de sigilo de empresas com sede no exterior

Com rombo de mais de R$ 2 bi, banco sofreu intervenção em 2005; Edemar nega desvio para fins pessoais

Daniel Marenco/Folhapress
Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos
Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos

JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO

A massa falida do Banco Santos apresentou documentos à Justiça mostrando que o dinheiro gasto pelo ex-controlador Edemar Cid Ferreira na construção de sua casa e em sua coleção de obras de arte foi desviado do banco.

A instituição foi liquidada em 2005 com rombo de R$ 2,3 bilhões. Condenado a 21 anos de prisão por crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e gestão fraudulenta, Edemar está em liberdade provisória.

A Folha teve acesso aos documentos obtidos no exterior pela massa falida e, durante uma semana, aguardou os advogados do ex-banqueiro analisá-los. Em entrevista na quinta-feira passada, Edemar disse que "não há provas de que saiu dinheiro 'carimbado' do banco" indo para as empresas que controlam seus bens pessoais.

No centro dessa disputa está a tentativa de Edemar de conseguir que a Justiça retire da falência justamente as empresas que administram o patrimônio de sua família. No processo, ele diz que o dinheiro era de Márcia Cid Ferreira, com quem é casado com separação de bens.

A massa falida só obteve os documentos anexados a esse processo após a quebra do sigilo de empresas sediadas em paraísos fiscais.

A investigação foi feita pela empresa OAR, contratada pela massa falida -que concordou em pagar 30% de tudo o que ela conseguir repatriar. Em troca, a OAR arcou com os custos judiciais em Miami (EUA) e na Suprema Corte do Leste do Caribe. A Justiça brasileira autorizou a contratação.

No exterior, a OAR obteve autorização judicial para a quebra do sigilo, e os escritórios que fazem a custódia das "offshores" tiveram de entregar documentos sem avisar Edemar.

Ao todo, são quase 7.000 páginas de contratos, declarações de beneficiários, comprovantes de operações, e-mails e correspondências.

CAIXA ÚNICO

A OAR afirma ter rastreado 20% do dinheiro que saiu do Banco Santos por meio de operações simuladas e foi parar na conta da Alsace Lorraine -"offshore" que, depois, "distribuía" esse dinheiro para outras "offshores".

Edemar afirma que a Alsace foi aberta por ele para captar recursos no exterior e era administrada pelos diretores do banco.

Segundo a OAR, essa "offshore" pagou despesas pessoais do ex-banqueiro como a construção de sua casa, em São Paulo, e uma fatura do cartão de crédito de Edemar no valor de US$ 28 mil. A Alsace também pagou US$ 5,7 milhões ao arquiteto americano Peter Marino (responsável pelo projeto da residência do ex-banqueiro) e comprou mais de uma centena de obras de arte.

A investigação revela que, em 2003 e 2004, a Alsace repassou US$ 304 milhões para 21 "offshores" que, ainda segundo a OAR, eram controladas direta ou indiretamente por Edemar.

Uma delas foi a Blueshell, que pertence à mulher de Edemar. No documento, ela diz que os recursos eram provenientes do marido, controlador do Banco Santos. A Blueshell recebeu US$ 56,6 milhões da Alsace.

O dinheiro entrava no Brasil como aumento de capital na empresa Atalanta Participações e Propriedades, dona da casa de Edemar, em uma conta que ela tinha no próprio Banco Santos.

A massa falida também descobriu duas empresas cujos bens serão herança dos três filhos de Edemar. Em uma delas, apareceram ações das empresas que controlam a mansão, as obras de arte e os prédios onde funcionavam o banco e a corretora. Há também uma conta no UBS, na Suíça, com US$ 4,4 milhões já bloqueados pela Justiça.

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