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Análise / Produção

Demanda maior de emergentes impulsiona margens agrícolas

ANTONIO CARLOS ORTIZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Com o aumento de demanda vindo de países emergentes, inclusive do Brasil, e com frustrações de safras pelo mundo nos últimos anos, as margens da produção agrícola têm-se mantido acima das médias históricas para uma boa parte dos setores.

No setor sojicultor, por exemplo, as margens operacionais têm estado bem acima da média, por volta de 30%. Historicamente, quando esses resultados são bem positivos, há investimentos em expansão.

Há uma boa relação entre o percentual de margem operacional e área nova de soja no ano seguinte. Para cada ponto acima de 13% de margem operacional, na média anual, a área cultivada tem crescido por volta de 150 mil hectares no ano seguinte.

Com três anos de boas margens na soja, pode-se esperar expansão de 2 milhões de hectares dessa cultura (cerca de 8% da área atual) até 2013. Não seria muito se fosse distribuído entre grande parte dos produtores, mas não é assim que acontece.

A cada ano, está mais concentrada em algumas fronteiras, por um número limitado de produtores. Os 8%, mais os ganhos de produtividade, também não são de grande impacto na oferta se a demanda continuar crescendo.

Entretanto, se a demanda cair, a China conseguir estocar e "frear a arrumação da carga", provavelmente esfriaria os preços. Esse cenário pode coincidir com a época em que os investimentos precisam se repagar.

A expansão para enfrentar a demanda crescente, e tirar proveito das boas margens, é saudável. No entanto, é preciso evitar o excesso de alavancagem financeira. No passado, expansões superentusiasmadas levaram a crises profundas em anos subsequentes.

A alavancagem de recursos de terceiros é muito útil, mas precisa ser talhada em volume, prazo e moeda sob medida. Caso contrário, arrisca-se a acabar em uma intensa contenção de gastos por conta do entusiasmo.

Portanto, para evitar o risco na frente financeira, o melhor seria investir mantendo boas proporções entre capital próprio e de terceiros.

Dessa maneira, evitar dívidas -inclusive compra de terra e trocas- além de três vezes a geração de caixa esperada com expansão; evitar dívida além de 80% das despesas operacionais; e sempre é preciso deixar uma folga entre os compromissos anuais e o valor da safra que vai liquidá-los.

É especialmente importante que se mantenha uma relação entre o tempo em que o investimento vai levar para gerar caixa e o vencimento das dívidas que deram suporte à expansão, seja compra de terra, correção de solo ou equipamentos. É preciso tempo para pagar esses itens.

Pode parecer incrível, mas no histórico de uma carteira de crédito de quase oito anos, os casos complicados foram bem mais frequentes por descasamento do fluxo de caixa de projetos de expansão do que por frustração de safra.

O equilíbrio desses parâmetros, com alavancagem conservadora, ajuda a passar pelo ciclo inexorável de preços dos produtos agrícolas.

ANTONIO CARLOS ORTIZ é diretor da Divisão Rural e vice-presidente do Rabobank Brasil.

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