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Premidos por obras de Viracopos, sítios viram área de lazer

Vizinhos do aeroporto investem em turismo rural para garantir receita em terras reduzidas por desapropriação

Produtor atrai, no fim de semana, cerca de 500 interessados em colher goiabas no pé e fazer passeios a cavalo

MARÍLIA ROCHA
DE CAMPINAS

Produtores rurais de Campinas (93 km de SP) se uniram em torno de iniciativas de turismo rural para resistir à pressão de venda de terrenos por conta da ampliação do aeroporto de Viracopos.

Com isso, termos como "valor agregado" e "expansão de mercado" passaram a integrar o vocabulário das famílias, que dividem funções e fazem cursos de capacitação para receber turistas.

Desde o início do ano, cerca de 500 pessoas interessadas em colher morangos e goiabas no pé, conhecer criações de animais e fazer passeios a cavalo ou comer queijo produzido no local lotam um sítio do bairro Fogueteiro a cada fim de semana.

"Implantamos as primeiras ideias de turismo rural para compensar o que iremos perder com a ampliação do aeroporto. Hoje, tenho 30% a mais no faturamento por conta dessas atividades", disse o produtor José Abacherly, 59. "A pessoa paga pela experiência, e isso agrega valor ao nosso produto."

Ele diz que nos próximos anos deve perder 80% da área em que planta milho e café, já que o local está dentro do perímetro de desapropriação para a construção da nova pista do aeroporto.

Além dessa mudança, produtores dizem que o assédio de empresários -especialmente do ramo de logística- tem crescido nos últimos cinco anos. Compradores insistentes oferecem valores 230% mais altos pela terra.

"Há cinco anos o metro quadrado custava R$ 15. Agora, já vi venderem por R$ 50", diz Abacherly. Segundo ele, quem vende vai para a cidade, onde não consegue se sustentar. "A sensação é que estamos sendo cercados."

O presidente da comunidade luterana de Friburgo, bairro de descendentes de alemães, Hedio Ambrust Junior, 42, afirma que a abordagem chega a ser agressiva.

"Um rapaz perguntou se eu queria vender o terreno. Disse que não. Dias depois, ele voltou dizendo que eu tinha que vender. Quem diz o que tenho que fazer sou eu, e essa é a terra em que minha família produz há 140 anos."

Para ele e outras 40 famílias da região, buscar alternativas de negócio e atuar em grupo fortalecem as chances de permanecer no local. Com esse objetivo, pretendem criar uma associação de turismo rural ainda neste ano.

"Temos 250 famílias nos bairros mais próximos. Vamos conversar com todas para tentar trabalhar juntos e continuar vivendo aqui", disse Altevir da Silva Pinto, que em breve irá abrir uma pousada familiar no Fogueteiro.

CURSO

Cerca de cem produtores fizeram um curso de turismo rural do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), com apoio do Departamento de Turismo de Campinas.

"A proposta é capacitar as famílias para gerar fonte de renda além da produção", disse a engenheira-agrônoma e instrutora Marília Abarca.

Para Abacherly, é uma questão de alternativa. "Vamos planejar e ampliar mercado para dar continuidade ao negócio", disse.

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