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Dobra número de clientes por antena de celular em 10 anos

Excesso de linhas por antena prejudica qualidade do serviço

Nos EUA, número é de cerca de 1.000 linhas por antena; no Brasil, passou de 2.418 em 2002 para 4.618 neste ano

Investimento na rede acompanha ritmo da economia; soja levou teles ao Centro-Oeste e renda, ao Nordeste

JULIO WIZIACK
MARIA PAULA AUTRAN
DE SÃO PAULO

Em uma década, a base de assinantes de celular no país explodiu, mas o ritmo de construção de antenas não acompanhou esse crescimento. Resultado: em junho, a média de chips por antena chegou a 4.618, ante 2.418 em 2002 -alta de 91%-, prejudicando a qualidade.

É o que mostra levantamento feito pela Folha com dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

Não há um indicador mínimo de clientes por antena para garantir qualidade. É como um pedágio que recebe mais carros com o mesmo número de cabines. Resultado: congestionamento.

A UIT (União Internacional de Telecomunicações) considera alguns países como referência. É o caso dos EUA, onde a média é de 1.000 linhas por antena. No Japão é de 400; na Espanha é de 460.

Outro fator que interfere na qualidade do serviço é a conexão das antenas (por fios) às centrais. As operadoras ainda estão trocando as conexões mais lentas por outras velozes (fibras ópticas).

Nesse caso, os investimentos são dimensionados de acordo com a demanda. Por isso, regiões de maior poder aquisitivo têm mais atenção.

O Centro-Oeste, por exemplo, só ganhou mais antenas após o "milagre da soja" e o Nordeste recebeu investimentos mais sólidos no governo Lula, quando aumentou a renda na região.

Para estimular a melhoria da qualidade da infraestrutura, o governo de Minas Gerais chegou, no passado, a abrir licitação e a conceder redução de impostos à operadora que se dispusesse a investir ainda mais do que o exigido pela Anatel na instalação de infraestrutura no Estado.

Mas até em regiões mais abastadas tem sido difícil investir nos últimos anos. As teles dizem que têm dinheiro em caixa, mas não conseguem expandir sua rede devido à interferência das prefeituras que, em geral, colocam barreiras às antenas alegando riscos à saúde -um mito já derrubado pela Organização Mundial da Saúde.

PROIBIÇÃO

Para os clientes, a percepção de qualidade é negativa e se explica pela queda de investimentos das operadoras. Com o aumento das reclamações, a Anatel proibiu, neste mês, Oi, TIM e Claro de venderem chips em alguns Estados até apresentarem planos convincentes de melhoria. As vendas seguem suspensas.

A Folha apurou que a presidente Dilma Rousseff cobrou do ministro Paulo Bernardo (Comunicações) explicações sobre a medida e perguntou se as reclamações das teles sobre as barreiras às antenas eram justas.

Bernardo respondeu que, nesse aspecto, as "teles têm razão". Disse também que está sendo preparada uma lei federal que definirá as regras para a construção de antenas e de dutos de passagem de cabos e fibras ópticas -uma forma de pôr fim às disputas entre teles e municípios para destravar investimentos.

Até junho, a Vivo liberou recursos para 254 torres. Mas, com a burocracia, só executou quatro. Em Porto Alegre, a Oi espera há quase quatro anos para erguer 50 antenas.

Os consumidores também reclamam. "Quando vou ao Congresso, tem deputado que não entende por que o sinal falha nas rodovias", diz Eduardo Levy, presidente do SindiTelebrasil (associação que representa o setor).

"Não é para ter [falha]. O governo definiu um modelo que obriga o setor a levar o sinal às áreas urbanas. Não foram as operadoras que fizeram essas regras."

Colaborou MARCELO SOARES, de São Paulo

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