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CRÍTICA MULTINACIONAIS

Consultor mostra história do poder das grandes corporações

Livro traça evolução das relações íntimas entre empresas e Estados

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Os dados são superlativos: As 300 maiores multinacionais controlam mais de um quarto da capacidade produtiva da terra. A maior companhia do mundo, a Walmart, tem receitas maiores que o PIB de 25 países. As vendas anuais da Exxon superam o PIB da Suécia.

"Power, Inc" (Poder, Inc, em tradução livre), do jornalista e consultor David Rothkopf, trata desse universo: o superpoder das megaempresas. Tenta misturar história e economia para traçar a evolução do poder privado e suas relações -sempre muito íntimas- com Estados.

Rothkopf, que trabalhou na área de comércio no governo Clinton, diz que as corporações baseadas nos EUA geralmente preferem investir em países não democráticos.

Neles, os salários são mais baixos, a regulação ambiental é fraca, os sindicatos enfrentam restrições e as decisões de ditadores são tomadas de forma mais rápida.

Com comportamento de potências, as superempresas têm ações que nem sempre resultam no interesse público e na defesa da democracia e das leis, escreve o autor.

Ele cita alguns exemplos, como a atuação da ITT na derrubada de Salvador Allende no Chile e da Shell no desastre ambiental na Nigéria.

O autor relata a pressão que as grandes companhias exercem sobre governos para que eles ajam de acordo com os seus interesses e pedem socorro nas horas difíceis. Ao mesmo tempo, como elas escapam do pagamento de impostos.

Graças a lobbies e estratégias contábeis, a gigante GE, por exemplo, teve uma carga tributária de apenas 7% de seu lucro em 2010 -menos de um terço da média entre as multinacionais.

Apesar do poder avassalador das empresas, o consultor enxerga ainda margem de manobra para os Estados. São eles, afinal, que fixam regulações, políticas industriais e podem atuar em fóruns internacionais para defender seus interesses.

DISPUTA DE PODER

Rothkopf, 56, constrói sua narrativa a partir de 1288, quando há registro de uma transação acionária envolvendo uma empresa sueca então mineradora de cobre. A companhia, hoje atuando nos setores de papel, madeira, embalagens, é a Stora Enso, cujas vendas superam o PIB de quase cem países.

O livro passa pela disputa de poder entre Estado e igreja e pela experiência acumuladora do mercantilismo, que criou megafirmas privadas com decisivo suporte estatal. Um exemplo é a britânica Companhia das Índias Orientais, que esfolou a Índia por décadas, provocou rebeliões e acabou estatizada no século 19.

Depois, o autor trata dos "barões ladrões" dos séculos 19 e 20 nos EUA.

É quando surge a saga de John Rockefeller, que achava a competição "um pecado". Sua Standard Oil chegou a controlar 90% das refinarias de petróleo americanas. Forçada a ser dividida, hoje ela é a Exxon e quatro outras grandes empresas.

Rothkopf balança entre querer mostrar que não há oposição entre empresas e Estados e em apontar conflitos.

Às vezes se perde no relato enfadonho de remotas intrigas políticas.

E o leitor fica carente de informações sobre novas megacompanhias. Oriente e América Latina mereceriam um olhar mais detido.

O Brasil aparece no relato do uso da força estatal em defesa dos interesses da Stora Enso quando de protestos de sem-terra. O autor descreve a ação das empresas no terreno militar e na contratação de mercenários, que muitas vezes são pegos em torturas e violando direitos.

Talvez seja o caso de dizer que "negócios são apenas a continuação da guerra por outros meios", arrisca o jornalista.

POWER, INC
David Rothkopf
EDITORA Farrar, Straus and Giroux
QUANTO US$ 30 (436 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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