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Entrevista - Bernardo Figueiredo

Governo errou em primeiro leilão de aeroportos

PRESIDENTE DA EPL, QUE COMANDARÁ PROJETOS DE INFRAESTRUTURA, DIZ QUE O QUE IMPORTA NÃO É O CONTROLE, MAS A QUALIDADE DOS SÓCIOS

Andre Borges/Folhapress
Bernardo Figueiredo em estúdio do UOL e da Folha em Brasília
Bernardo Figueiredo em estúdio do UOL e da Folha em Brasília

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

O presidente da recém-criada empresa que comandará investimentos de R$ 133 bilhões em cinco anos em ferrovias e rodovias, Bernardo Figueiredo, diz que o governo errou na primeira fase de concessão de aeroportos.

Para ele, teria sido necessário buscar empresas que tivessem mais experiência, o "estado da arte", para administrar aeroportos de Brasília, Guarulhos e Campinas, concedidos no primeiro semestre deste ano.

Em entrevista à Folha e ao UOL, o presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística) afirmou que essa exigência fará parte dos novos leilões. Cita o caso do trem-bala entre São Paulo e Rio: "A gente não está aceitando operador com menos de dez anos de experiência".

Figueiredo, 61, é um dos operadores mais prestigiados no governo da presidente Dilma Rousseff. Mineiro, tem sete filhos de dois casamentos e mora em uma fazenda a 40 minutos do centro de Brasília. Fuma uma média de seis cigarros de palha por dia.

Os projetos serão formatados em conjunto com o Tribunal de Contas da União e com o Ibama. A ideia é evitar embargos posteriores de ordem legal ou ambiental.

Os dados de execução das obras serão colocados on-line em um site na internet.

Em março, Figueiredo teve seu nome rejeitado no Senado para mais um mandato na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). O revés foi comandado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR). Indagado se o paranaense equivocou-se nesse episódio, o presidente da EPL respondeu: "Em todos eu acho que ele está equivocado".

A seguir, trechos da entrevista (a íntegra está nos sites da Folha e do UOL), na qual Figueiredo afirma ainda que o Brasil dobrará o volume de carga transportada em ferrovias nos próximos cinco anos.

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Folha/UOL - O governo vai interromper o modelo de concessão de aeroportos e dará preferência a um sócio privado com a Infraero, que se manteria majoritária?

Bernardo Figueiredo - A discussão é se é 49% ou se é 51% [do controle do aeroporto a cargo da Infraero]. Não me parece ter essa decisão já. O cuidado que vai se tomar é de a Infraero se associar com a tecnologia de ponta.

A qualificação dos operadores nas próximas concessões, seja em qualquer modelo for, vai ser um item importante.

O governo ficou insatisfeito com o resultado das concessões dos três aeroportos (Guarulhos, Brasília e Campinas)? Algo deu errado?

Agora no trem de alta velocidade [o TAV, apelidado de "trem-bala"] nós estamos tomando o cuidado para trazer para esse processo, a ponta... o estado da arte naquela área.

Isso não aconteceu nas licitações de aeroportos até agora?

Não houve essa exigência de qualificação de empresas para entrar no processo, que elas fossem o que há de melhor em termos de operação.

Então foi um erro?

É... foi um erro.

Nos próximos haverá a exigência?

É só tomar esse cuidado. É só não cometer de novo o mesmo erro.

Como se corrige o erro?

É exigir qualificação de quem vai participar. O fato de ter grupos que são menores ou não operam grandes aeroportos não quer dizer que isso vá ser um fracasso.

Não foi o desejável...

Não era... A Infraero tinha a oportunidade de trazer a tecnologia de ponta de operação de aeroporto no mundo. E não trouxe.

Não quer dizer que esses operadores sejam ruins. Quer dizer só que perdeu uma oportunidade de ser mais seletivo nessa operação. A gente está fazendo no trem de alta velocidade: não está aceitando operador com menos de dez anos de experiência.

O Senado rejeitou em março sua recondução para a ANTT. O governo tem maioria no Congresso. Não houve empenho?

Não sei. Vi a votação pela TV. Acho que se criou um ambiente falso a meu respeito.

O senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, trabalhou contra o sr. Por quê?

Não tenho uma relação com ele.

Ele alega que houve divergência com o sr. a respeito da construção de uma ferrovia, quando ele era governador [do Paraná]. É isso mesmo?

Isso eu tive a oportunidade de explicar no processo que o ministro Paulo Bernardo [das Comunicações] moveu contra ele [Requião] e que ganhou na Justiça.

Quando lançou-se o PAC, existia a necessidade de melhorar o acesso a Paranaguá. Havia duas opções. Uma ligação que já existia e uma outra, que era a construção de uma ferrovia nova.

Fomos eu e o ministro Paulo Bernardo discutir com ele [Requião] qual era a melhor opção. E ele começou a dizer: "Ah, vocês querem fazer isso, isso e isso". Foi uma reunião que acabou rápido.

Nós nos retiramos. Ele insistia: "Quer ver que esse negócio custa R$ 150 milhões e não R$ 500 milhões?". Nós não tínhamos o valor.

Há risco agora de o Senado rejeitar a medida provisória que criou a EPL?

Seria lamentável. Isso afronta o que a sociedade toda e todos os agentes que estão envolvidos em logística acham que deve ser feito.

Nesse episódio, o senador Requião está equivocado?

Em todos eu acho que ele está equivocado.

O sr. já tomou bronca da presidente Dilma Rousseff? Como é sua relação com ela?

Minha relação com ela não é uma relação do dia a dia. Eu só encontro com a presidente em reuniões de trabalho.

Nessas reuniões ocorrem discussões. Eventualmente nós levamos projetos que têm fragilidades. E as broncas são em função de a gente não ter os cuidados necessários para levar um projeto mais consistente.

NA INTERNET
Assista à entrevista e leia a transcrição
folha.com/no1145392

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