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Cifras & letras CRÍTICA CIÊNCIAS SOCIAIS Autora conclama mulheres a usar bem os atributos físicos Feminismo e patriarcalismo reduzem valor da beleza entre elas, diz livro MARIANNA ARAGÃODE SÃO PAULO Queimar sutiã é coisa do passado. Em defesa da igualdade dos sexos, a socióloga inglesa Catherine Hakim conclama as mulheres a usarem, na vida cotidiana e no mercado de trabalho, alguns de seus melhores atributos físicos -seja ele um rosto angelical, uma bela silhueta ou um tailleur bem cortado. A afirmação, que pode deixar muitas feministas de cabelo em pé, é a tese central do livro "Capital Erótico" (Best Business), lançado no Brasil neste ano. Na obra, Catherine, de 64 anos, argumenta que o capital erótico é um ativo com valor econômico mensurável e tão legítimo quanto o conhecimento (capital humano) ou uma rede de contatos bem construída (capital social). Pela definição da autora, o capital erótico reúne características que vão além da beleza, como "sex appeal", competência para se vestir, boa forma, dinamismo, carisma e sexualidade. O caráter multifacetado do atributo faz com que ele seja acessível não apenas aos sortudos agraciados com a beleza no nascimento, mas a todos, homens ou mulheres - mediante trabalho duro, tempo e esforço. VANTAGEM FEMININA Apesar disso, as mulheres carregam, naturalmente, um nível maior de capital erótico do que os homens, sustenta a autora. Isso acontece por algumas razões. Uma delas é a maior valorização, ao longo da história, do corpo e da sensualidade feminina nas artes, na mídia e na publicidade. Além disso, elas se dedicam mais para ficar belas -como a bilionária indústria de cosméticos, de moda e de tratamentos estéticos não nos deixa negar. Outra explicação para a vantagem competitiva das mulheres nesse quesito é a existência de um suposto deficit sexual masculino. Segundo Catherine, os homens passam a maior parte de sua vida sexualmente frustrados, já que seu desejo sexual cresce de maneira estável ao longo da vida, enquanto o das mulheres decai rapidamente depois dos 30 anos. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado sexual potencializa o valor do atributo erótico das mulheres. OPORTUNIDADES A indústria do entretenimento expõe de forma irrefutável o valor econômico do capital erótico. Afinal, foi o "sex appeal" do ator George Clooney -e não seu talento como ator- que contou na sua escolha como garoto-propaganda de uma marca de cafés. Mas o adicional por beleza também tem sido explorado no mercado de trabalho de uma forma geral. A argumentação da autora, entretanto, tenta mostrar que a recompensa por esse adicional erótico é menor entre as mulheres -que, paradoxalmente, mais detêm capital erótico- do que entre os homens. Os culpados por essa diferença, na visão de Catherine, são o feminismo radical e a cultura patriarcal nas sociedades ocidentais, que "insistem que o trabalho das mulheres deve sempre ser fornecido gratuitamente, feito por 'amor' e nunca por dinheiro". As ideias da socióloga podem chocar pela crueza e aparente simplicidade, mas se fundamentam em centenas de estudos, coletados ao longo de mais de vinte anos de pesquisa na London School of Economics. E, embora não desvendem por completo o mistério sobre as diferenças entre homens e mulheres, ao menos contribuem com um novo -e curioso -olhar sobre tema.
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