Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Queda dos juros criou o risco de empolgação com o crédito

LUIZ CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A partir do momento em que os bancos anunciaram a queda dos juros, surgiu o risco de que as famílias poderiam perigosamente se empolgar com as "facilidades de se financiar".

O aumento do endividamento tem sido motivo de comemoração pela turma de economistas da velha guarda, que sempre reclama que as famílias e as empresas no Brasil não se endividam muito por falta de oportunidade.

A nova classe média aproveita o aumento de renda e, com ele, a possibilidade de se endividar. A oportunidade de comprar algo que queremos com o dinheiro que não temos seduz. E preocupa.

O governo não aumenta o endividamento das famílias por decreto. No entanto, suas coordenadas podem causar isso: de um lado, motivando a redução dos juros básicos; de outro, mobilizando os bancos para que reduzam também as suas taxas.

O resultado foi divulgado nesta semana: novo recorde de endividamento das famílias brasileiras. Um duplo recorde, em termos de renda total da população (44,23%) e do comprometimento da renda (22,42%). A inadimplência, por sua vez, está pouco abaixo de 8%.

Nos EUA, o centro do capitalismo, até hoje repercutem as consequências do endividamento irresponsável, também capitaneado pelos incentivos do governo.

Não é próprio do brasileiro esse descontrole financeiro. Para evitar esse problema, a recomendação é que as famílias tenham no máximo 20% da renda comprometida com dívida, excluindo as com imóvel. E que criem uma cultura de poupança.

Para evitar o abuso do crédito, é prudente seguir uma orientação antes de assumir uma dívida: estar sempre muito abaixo do limite de crédito. A conta é simples: se mais da metade do limite for usada, há uma chance de se estar a caminho do descontrole financeiro.

Um modo positivo de aproveitar os juros mais baixos é trocar de dívidas, a fim de reduzir o valor de juros pagos. Além de ser possível refinanciar, também pode ser feita a portabilidade da dívida. Com isso, é possível economizar um valor precioso.

Um dos mais sérios especialistas em finanças pessoais do Brasil, professor Humberto Rocha, tem uma teoria bem interessante sobre o crédito. Ele define como ciclo do consumo planejado.

Segundo a teoria, planejar o consumo é tão importante quanto planejar o investimento. O fato de os juros estarem em queda significa um custo menor, mas sempre será um custo.

É preciso aprender a dizer não ao uso do crédito quando for prejudicar a situação financeira. Não atrasar pagamentos, deixar separado o valor referente ao custo mensal das dívidas e não gastá-lo em outras contas.

No final, a recomendação é ter um hábito de consumo que permita se divertir, pagar as dívidas e ainda acumular um pouco de patrimônio para investir no futuro.

LUIZ CALADO é economista, autor de "Imóveis" (Saraiva) e "Fundos de Investimentos" (Campus).
www.luizcalado.com

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.