São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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ROBERTO RODRIGUES

Esperança de um bom ano


A esperança de dias mais risonhos é o combustível da vida; o agricultor sintetiza essa atitude


ESCREVE-SE MUITO sobre este interessante e recorrente fenômeno que é a renovação de esperanças, propósitos e projetos em cada ano novo. A simples virada de uma página no calendário provoca nas pessoas até mesmo a revisão dos valores e dos objetivos, como se tudo fosse começar do zero.
O que alimenta essa curiosa atitude é a esperança. Sempre comento com meus alunos na universidade que a esperança é o grande combustível da vida. Para que seguir se não houver a expectativa de que as coisas vão melhorar, o futuro é promissor e tudo vai dar certo? Se não há esperança de dias mais risonhos, a vida não faz sentido.
É esse fantástico mecanismo que empurra a humanidade para a frente; os casais querem gerar filhos, sonham com a formação escolar deles, com o casamento deles, com os netos, os bisnetos e assim segue o trem da história: com a esperança de que os pósteros terão boa sorte.
E para isso lutamos, trabalhamos e nos comprometemos com a construção de um mundo melhor.
Mas, sem dúvida, a mais perfeita síntese dessa maravilha é o agricultor: ele é alimentado pela esperança todo o tempo, além até da virada do ano.
A maior demonstração disso é o próprio ato que simboliza sua profissão: plantar uma semente. Só pode ser um ato de esperança e também de fé: ele acredita que haverá calor e umidade suficientes para que no interior daquele grãozinho vá acontecer um extraordinário processo fisiológico que provocará a emissão de raízes e de uma futura parte aérea.
O agricultor acredita que essa segunda parte atravessará a camada de terra que está sobre a semente, enfrentará seca, geada, granizo, pragas e doenças; que no solo haverá nutrientes; que a colheita será boa; que os preços remunerarão a tal ponto que será possível pagar os bancos, os impostos e demais custos, e ainda sobrará recursos para reformar as máquinas e equipamentos e tocar para a frente. É essa esperança lastreada na confiança que o agricultor tem em si e em seu trabalho que o move e o anima e que, a cada final de ciclo agrícola, faz com que ele repita, ano após ano (porque nunca tudo acontece positivamente, sempre tem algum problema pelo caminho), que "o ano que vem será melhor".
Mas, desta vez, o homem do campo tem boas razões para achar que 2011 será mesmo um bom ano. Vem chovendo dentro do esperado (é claro que um país tão grande como o nosso tem regiões onde sobra ou falta água) e os preços estão, em geral, acima das médias históricas.
Além dos preços dos grãos, café e laranja têm as cotações mais altas dos últimos anos e o açúcar, as carnes e o algodão estão com oferta menor do que a demanda.
Não há indicação de queda brusca desses preços, mesmo sabendo que parte deles se deve à especulação, o que é um risco; há equilíbrio mundial entre produção e consumo, e este vem se aquecendo sobretudo nos países emergentes onde a crise financeira fez menos estragos.
Além disso, temos governo novo em Brasília, nos Estados, um Congresso renovado, e está todo mundo querendo acertar. E também temos o horizonte desenhado pela OCDE, segundo a qual o Brasil precisa aumentar em 40% a produção de alimentos, em dez anos, para que o mundo todo aumente sua própria capacidade produtiva em 20% nesse período e possa atender a explosiva demanda global.
Há, portanto, uma conjugação de vários fatores favoráveis para que o produtor brasileiro espere mesmo um bom ano em 2011.
Vai sempre ser preciso que o governo não atrapalhe, que resolva logo a questão do Código Florestal, que reforme as leis obsoletas, que faça investimentos substanciais em logística e em infraestrutura (um dos nossos maiores gargalos), coloque recursos abundantes e tempestivos à disposição dos produtores e monte uma boa estratégia integrando todos os ministérios e os órgãos afins.
Se isso acontecer, a agricultura irá bem e empurrará o país todo para um futuro também melhor.
E há fundadas esperanças de que isso aconteça!



ROBERTO RODRIGUES, 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Depto. de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
rr.ceres@uol.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Fábio Barbosa



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