São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VINICIUS TORRES FREIRE

A China como "império do mal"


Em seminário na FGV de SP, expositores atacam câmbio, comércio desleal e ameaça colonial da China

A CHINA tem ambições imperiais, quase colonialistas -até o Brasil está ameaçado. A China frauda regras do comércio mundial. Recorre a seu peso econômico, político e militar para calar represálias em organizações multilaterais. Sua moeda é artificialmente desvalorizada, o que barateia seus produtos por meio de uma espécie de subsídio, com o qual compra fatias de mercado global. A China não apenas ocupa o mercado da indústria brasileira em solo nacional como expulsa as empresas nacionais de terceiros mercados.
A China foi, enfim, pintada como o império do mal econômico num seminário do 7º Fórum de Economia da FGV, ontem em São Paulo.
Com a ironia de costume e seu hiperrealismo político, Delfim Netto diz que o projeto de crescimento da China não cabe em seu território. A fim de manter taxas de crescimento compatíveis com o que a elite chinesa chama de estabilidade política (9% ao ano), a China precisa praticamente colonizar países-fonte de recursos naturais e derivados. Compra partes da África. Mas não só.
"O Brasil tem de saber aproveitar essa complementaridade com a China. O problema é a subordinação" diz Delfim. O Brasil "não pode aceitar" que instituições do governo chinês (empresas ou fundos) comprem parte do país, terras inclusive.
Quanto à invasão da manufatura chinesa, o ex-ministro e professor emérito da USP diz que o problema não está nas empresas, tão produtivas quanto as chinesas, mas sim no governo e seus impostos, na infraestrutura ruim e no câmbio.
Vera Thorstensen elencou os dados da invasão chinesa e desancou o "unfair play" da China no comércio mundial. Thorstensen, assessora econômica da missão brasileira na OMC, de 1995 a 2010, é agora professora da FGV. Na relação comercial direta com o Brasil, a invasão não parece tão chocante. No ano 2000, 2% das exportações brasileiras iam para a China, de onde vinham também 2% das importações. Em 2009, tais valores eram, respectivamente, 13% e 12%.
No ano 2000, 68% da exportação brasileira era de produtos básicos (minério, soja, combustível etc.); em 2009, 77%. No caso das vendas chinesas, 91% eram de manufaturados em 2000 e 98% em 2009. Como se diz, a China "commoditiza" o comércio exterior do Brasil.
Além disso, a China avança cada vez mais em mercados antigos ou potenciais de manufaturas brasileiras, como EUA, Argentina e México. A fatia de mercado chinesa na Argentina é 2,5 vezes a do Brasil; no México, 9 vezes; nos EUA, 13 vezes. Afora o caso argentino, a fatia do Brasil ficou estagnada.
O economista Roberto Giannetti da Fonseca, da Fiesp, diz que governo e empresas têm de aprender a reagir ao massacre chinês, que também se dá por meio de contrabando, pirataria, dumping, barreiras não tarifárias irregulares e fraude de origem dos produtos (a China exporta por meio de terceiros países a fim de burlar controles brasileiros).
Vera diz que o câmbio chinês burla as regras da OMC e está "minando os alicerces do sistema multilateral de comércio". O Brasil, diz a professora, é tímido na reação. De 1980 a 2010, houve 820 investigações antidumping contra a China (em especial em químicos, metais e têxteis). O Brasil pediu 47 investigações, menos que México e Argentina.

vinit@uol.com.br


Texto Anterior: FOLHA.com
Próximo Texto: 12% das famílias devem 5 vezes a sua renda
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.