São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Resultado indica o fim da fase de acomodação, com alta moderada

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de ter atingido um "pico" histórico em março, a partir de abril a produção da indústria brasileira refluiu claramente.
Esse refluxo do setor industrial era previsível (embora muitos tenham subestimado a sua intensidade).
O dinamismo da produção vinha sendo reforçado por movimentos fortes, porém transitórios, de antecipação de compras de bens de consumo duráveis -induzida pelas reduções de IPI que se encerraram ao final de março- e de recomposição de estoques industriais (que foram drasticamente reduzidos no período em que o crédito se manteve travado).
A diluição desses movimentos deve ter levado o PIB da indústria -que no primeiro trimestre cresceu 4,2% sobre o quarto trimestre de 2009 (taxa que corresponde a impressionantes 18% ao ano)- a uma pequena queda no segundo trimestre.
A divulgação dos números do PIB do período abril-junho na próxima sexta-feira deverá, portanto, revelar que a indústria liderou a desaceleração da economia (estimamos que o PIB tenha tido alta de 0,7% sobre janeiro-março, bem abaixo dos 2,7% que foram apurados no primeiro trimestre).

NOVA FASE
A alta de 0,4% da produção da indústria na passagem de junho para julho, para a qual contribuíram 17 dos 27 segmentos industriais contemplados no levantamento do IBGE, sinaliza que o período de "acomodação" da atividade econômica deve ter ficado para trás.
Há condições para que o consumo e o investimento sigam em alta, mas a um ritmo bem mais moderado do que se observou na virada de 2009 para 2010.
Mudanças na ênfase da política econômica são um dos elementos que apontam para essa perspectiva.
O efeito, sobre a demanda interna, dos aumentos de recolhimentos compulsórios e da taxa básica de juros determinados a partir de março ainda não se fez sentir plenamente.
E o investimento público, que foi antecipado para o primeiro semestre devido à legislação eleitoral, deverá se desacelerar.
Ao lado disso, o ritmo de alta das importações volta a superar amplamente o das exportações, conferindo às operações de comércio exterior relevante impacto contracionista sobre o PIB.


FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


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