São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

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ANÁLISE ALIMENTOS

Agricultura brasileira precisa aproveitar o mercado asiático

MARCOS FAVA NEVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estudar os números do consumo de alimentos na Ásia anima grandes produtores e exportadores de alimentos. Porém, o tradicional foco na China negligencia outros importantes mercados consumidores.
Estimativas mostram que o mercado indiano de alimentos saltará de US$ 155 bilhões em 2010 para US$ 260 bilhões em 2015. Nesse período, o da Tailândia crescerá 50%, o do Vietnã, 65%, e o da Indonésia saltará de US$ 65 bilhões para US$ 100 bilhões.
A produção de alimentos tende a crescer nos países asiáticos, mas apenas até onde sua capacidade de recursos produtivos aguentar. E, em muitos desses países, ela se encontra no limite, ou próxima dele. Há oportunidades.
Os impactos da atual crise mundial tendem a ser menos sentidos nos emergentes e no mercado de alimentos, pois estes são os últimos a serem cortados em época de orçamento restrito.
As multinacionais anunciam grandes investimentos: expansão da capacidade produtiva, adaptação e lançamento de produtos e estruturação de canais de distribuição e vendas em emergentes.
Empresas brasileiras poderiam aproveitar o real valorizado (mesmo com a recente desvalorização) e adquirir empresas naqueles países, visando fincar bandeira e montar produtos, acessando marcas e canais de distribuição.
Da mesma forma, ocorre maciço investimento asiático em países com potencial de produção. Deve-se discutir se o Brasil está preparado não somente para receber, mas também para sair na frente de concorrentes, atraindo investimentos asiáticos.
Para deixar os investimentos acontecerem, é preciso rever o parecer da Advocacia-Geral da União de 2010, que, lamentavelmente, jogou insegurança jurídica nos investimentos internacionais, e acabou advogando contra a União (sociedade).
Esse parecer restringiu os investimentos diretos, os arrendamentos, num valor que a Confederação Nacional da Agricultura estima em R$ 60 bilhões. Imagine, leitor, quantos empregos seriam gerados, quanto seria pago em tributos, quanto seria exportado e quanta renda seria distribuída com R$ 60 bilhões investidos no país?
Imagine ainda que esses investimentos acontecerão em outros países, que passarão a ser fortes concorrentes dos brasileiros.
Em tempos de Rock in Rio, que esse parecer possa ser revisto e que seja proposta uma regulação moderna e atrativa para receber os investimentos com os braços abertos do Cristo Redentor, e que do rock "que país é este?" possa-se mudar para o samba "deixa acontecer... (investimentos)... naturalmente".

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP (Campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.


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