São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2011 |
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ANÁLISE AGRICULTURA Alegria dos últimos anos, demanda de soja agora preocupa FERNANDO MURARO JR. ESPECIAL PARA A FOLHA O mercado da soja se acostumou, nos últimos anos, a conviver com crescimentos robustos no consumo mundial do grão. De 1996 para cá, a demanda global pela oleaginosa cresceu, em média, 8 milhões de toneladas por ano, ou 4,5%, de acordo com o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Grande parte desse avanço deveu-se à China. Graças ao ganho de renda de sua população e ao consequente aumento no consumo de carne e, portanto, de ração animal, o país se consolidou como o maior consumidor e importador de soja. Há dez anos, os chineses compravam 19% da soja exportada no mundo. Para o ciclo 2011/12, que vai até agosto, a previsão é de 60%. Mas os números já consolidados dessa temporada têm causado rugas de preocupação em quem aposta no aumento da demanda e dos preços. Embora a China mantenha um bom ritmo de compra de soja e derivados na América do Sul, graças à safra recorde colhida em 2010/11, os números dos Estados Unidos inspiram cuidado. Até o dia 20 de outubro, os chineses haviam comprado 12,8 milhões de toneladas de soja norte-americana para embarque em 2011/12. A queda anual, de 23%, é a primeira em seis anos. Outro mau sinal é que, mesmo com as compras firmes no Brasil e na Argentina, o total importado está mesmo menor. Segundo o governo da China, no período de abril a setembro deste ano o país importou 26,7 milhões de toneladas, 9% menos do que há um ano. E o problema não se restringe ao grão. O óleo, cujo maior importador mundial também é a China, igualmente vai mal. Sem nenhuma compra da China até o momento, as vendas americanas somam apenas 86 mil toneladas, ante 680 mil toneladas há um ano e 344 mil toneladas da média de cinco anos. Parte da queda se deve, é verdade, à retomada das exportações de óleo da Argentina para a China, cuja interrupção no ano passado inflou as vendas dos EUA. Outra parte, entretanto, deve-se ao crescimento da capacidade de produção das indústrias chinesas e à concorrência de outros óleos, como o de palma. Com a chegada da entressafra sul-americana, a expectativa é que a China acelere o ritmo de negócios nos Estados Unidos, com o consequente efeito positivo sobre as cotações na Bolsa de Chicago. Existem, contudo, dois obstáculos no caminho. O primeiro é a possibilidade de mais uma grande safra na América do Sul, devido ao aumento de área plantada. O segundo é a desaceleração da China. Mesmo que alguns décimos a menos no crescimento do PIB chinês não tenham potencial, em princípio, para derrubar o consumo de soja do país, é preciso ficar atento ao aperto no crédito, pois ele já teve influência sobre a redução das compras nos últimos meses. FERNANDO MURARO JR. é engenheiro-agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas. Texto Anterior: Consultor diz que, em aves, Brasil é rival dele mesmo Próximo Texto: Vaivém - Mauro Zafalon: Commodity agrícola se recupera em outubro Índice | Comunicar Erros |
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