São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2010

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Vasconcellos atua no país desde 2001

Presidente do Ongoing investiu em internet no Brasil e desistiu para voltar mais tarde com grupo de mídia

Empresário português fez empresas crescerem sustentadas por empréstimos; dívidas chegaram a 600 mi

DE SÃO PAULO

Não é a primeira vez que Nuno Vasconcellos, presidente do Ongoing, faz negócios no Brasil. Entre 2001 e 2008, ele tornou-se sócio da Arvitec, uma empresa de internet.
No auge dos investimentos pontocom no mundo, o empresário acreditava que o mercado brasileiro seria mais lucrativo do que o português. Juntou-se então a dois primos e investiu na empresa, fundada pela brasileira Delta de Negreiros.
"O Nuno é de uma família tradicional portuguesa, tem muitos contatos em empresas e no governo", disse Negreiros. "Tudo lhe interessa. Ele vê oportunidades em todos os lugares."
A Folha apurou que os contatos e o senso empreendedor levaram Vasconcellos para dentro da PT (Portugal Telecom), colocando o empresário no primeiro escalão dos executivos do país.
Em 2006, o Ongoing adquiriu cerca de 2% da operadora portuguesa, sendo praticamente financiado pelo BES (Banco Espírito Santo), maior acionista privado da PT. Naquela ocasião, a entrada do Ongoing na PT foi uma espécie de proteção, porque a operadora precisava de sócios contrários à proposta de compra da PT pelo grupo Sonae. Desde então, Ongoing e BES passaram a atuar como "núcleo duro" da PT.
Em 2010, esse núcleo perdeu a força com a proposta de 7 bilhões feita pela Telefónica para ficar com os 30% da PT no bloco de controle da Vivo. O Ongoing defendeu a venda. O negócio foi fechado por 7,5 bilhões e renderá 102 milhões em lucros somente ao Ongoing.
Antes do acerto final pela venda do controle da Vivo, o grupo também pressionou pela entrada da PT na Oi.
A Folha apurou que o Ongoing chegou a tentar contatos com os sócios privados da Oi. As negociações só começaram com a contratação do BES Investment para representar a PT, uma operação que isolou o Ongoing.

"ESTILO TRATOR"
Esse estilo controverso do grupo repetiu-se nas negociações com a Impresa, grupo de mídia de Francisco Pinto Balsemão, a quem pertence a emissora SIC, uma das três maiores audiências em Portugal.
Balsemão fundou a companhia em 1972 junto de Luiz Vasconcellos, pai de Nuno, e foi padrinho de casamento do filho do sócio.
Em 2010, o Ongoing passou a deter 22,4% da Impresa e tentou ampliar sua participação até 100%. Balsemão foi a público dizer que não abriria mão do controle.
A relação entre eles teria piorado quando Balsemão descobriu que, paralelamente, Nuno negociava a compra de 30% da TVI, pertencente aos espanhóis da Prisa, que atua em Portugal.
O negócio foi barrado pela autoridade portuguesa das comunicações porque, dentre outros motivos, daria ao Ongoing 75% do mercado publicitário em TV do país.
Especulava-se que o Ongoing estaria tentando entrar na TVI para se alinhar com o primeiro-ministro português, após a fracassada tentativa da PT em adquirir parte da emissora.
Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) investigou a suposta interferência do governo em favor das duas empresas.
O primeiro-ministro, José Sócrates, considerava o telejornal noturno da emissora, líder de audiência em Portugal, um "telejornal travestido", destinado a promover a "política da calúnia" contra o governo.
O negócio com a emissora não deu certo e a CPI foi arquivada. Em seguida, Vasconcellos contratou José Eduardo Moniz, ex-diretor-geral da TVI, e o deputado Agostinho Branquinho, que integrou a CPI. Moniz será o responsável pelos negócios na área de televisão, inclusive no Brasil, e Branquinho será diretor do grupo no país.
Fernando Soares Carneiro, ex-administrador da PT, também foi contratado pelo Ongoing. Carneiro desligou-se da operadora após ter aplicado 75 milhões provenientes do fundo de pensão dos funcionários da PT em fundos de investimento do Ongoing.

DÍVIDA PARA CRESCER
Aos 45 anos, Nuno Vasconcellos começou a construir sua rede de relacionamentos na Andersen Consulting, onde permaneceu por oito anos. Depois abriu em Portugal uma filial da Heidrick & Struggles, uma das principais empresas caça-talento na Europa, em parceria com o espanhol Rafael Mora.
Em 2006, ele fundou o Ongoing, considerado por analistas um grupo muito alavancado (toma empréstimos para fazer investimentos).
Um balanço divulgado em 2008 indicou que o grupo tinha ativos de 1 bilhão e uma dívida de 834 milhões. A Folha apurou que o capital próprio era de 50 milhões. Hoje, a empresa diz possuir mais de 1,4 bilhão em ativos, a dívida não chega a 600 milhões, e tem 200 milhões em capital próprio. (ELVIRA LOBATO e JULIO WIZIACK)


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