São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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VINICIUS TORRES FREIRE

Café, minas e ouro preto


Exportações de ferro, café e petróleo respondem por 67% do aumento das vendas brasileiras em fevereiro

O RESULTADO da balança comercial de fevereiro foi muito positivo.
As empresas brasileiras exportaram muito mais do que importaram, mais do que era previsível ainda no final do ano passado. Desde dezembro, tem havido "surpresas".
Os preços de alguns dos produtos de exportação subiram mais do que se imaginava, e as quantidades e os preços dos importados caíram ou cresceram bem mais devagar.
Do aumento do valor exportado em fevereiro, dois terços se deveram ao crescimento das vendas de minérios, basicamente ferro (44%), petróleo & derivados (16%) e café (7%). Note-se que essas três categorias de produtos responderam por cerca de uns 28% do total de exportações em fevereiro de 2010 e de 29% em 2011. Portanto, sua contribuição para o crescimento das vendas externas foi desproporcional.
O valor exportado de minérios subiu 95% em fevereiro de 2011. Na média, as exportações aumentaram 23,5%; as importações, 18%.
Café, minas e ouro preto (petróleo) dão uma frase de efeito e lamento sobre a "primarização" da pauta de exportações. Isto é, sobre o fato de o país vender cada vez mais produtos derivados da exploração de recursos naturais, embora não seja lá muito "natural" ter uma agricultura tecnologicamente avançada e explorar petróleo nas profundas do mar. Tudo isso exige pesquisa de ponta e tecnologia. Mas não cria lá muito emprego, porém.
Depois do aumento explosivo em meados do ano passado, quando chegaram a crescer entre 40% e 65% sobre o ano anterior, as importações vão se desacelerando, o que é evidente pelo menos desde dezembro de 2010. Em parte, pode ser o resultado do crescimento mais lento da economia. Ainda assim, as importações de equipamentos mecânicos, elétricos & eletrônicos e automóveis & autopeças ainda cresceram a 15%, 13% e 19% (sempre na comparação de fevereiro de 2011 com fevereiro de 2010). Não se pode chamar tal ritmo de crítico.
Mas a indústria continua a apanhar. Como diz relatório de conjuntura econômica divulgado ontem pelo Itaú: "A produção industrial caiu 0,7% em dezembro e tem estado mais ou menos no mesmo nível desde junho. O real forte reduz margens [de lucro] e fatias de mercado [da indústria], com os setores sensíveis às importações sofrendo mais".
Debates ideológicos e empiricamente complicados à parte, o fato é que o aumento do preço das "commodities" e/ou de bens "primários" tem ajudado a desacelerar o aumento do deficit externo (em conta- corrente, a diferença entre exportações e importações de bens e serviços). Ainda que se diga hoje em dia que o Brasil é estável e tem grandes reservas em moeda forte, um deficit externo mais ou menos sob controle é um fator a mais de estabilidade.
Além do mais, a confiança no crescimento do mercado de consumo brasileiro parece ainda grande, a julgar pelo volume de investimento direto estrangeiro (dito "produtivo", em novas instalações de produção). Nos últimos 12 meses, o IDE foi de quase US$ 51 bilhões, "cobrindo" o deficit externo, que, no mesmo período, foi de US$ 49 bilhões.
Em suma, o país segue mais ou menos estável, embora com desequilíbrios macroeconômicos desconfortáveis, firme no front externo e cresce. Mas a indústria apanha. Até quando isso vai prestar?

vinit@uol.com.br


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