São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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ANÁLISE

Economia em alta prolongará queda do superavit comercial

FLÁVIO SAMARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é de hoje que o saldo da balança comercial vem diminuindo. O debate sobre o assunto costuma citar brevemente as limitações estruturais impostas à indústria doméstica por uma carga tributária sufocante e pela infraestrutura debilitada para centrar o foco na taxa cambial como o principal culpado.
Ainda que o real esteja mais valorizado do que os fundamentos da economia apontam, seu nível não explica por si só a trajetória da balança comercial.
Ao contrário do que se poderia imaginar, a receita com exportações segue em forte elevação, apoiada na alta dos preços das commodities e na manutenção das quantidades exportadas para grandes mercados, como a China.
O que tem levado à diminuição do saldo comercial são as importações crescendo ainda mais rápido do que as exportações.
Os importados estão mais baratos principalmente por causa da demanda ainda fraca nas economias ricas fragilizadas pela crise: o excedente de produção é direcionado, a preços agressivos, para as economias com demanda aquecida, como o Brasil.
Embora esteja se desacelerando, a demanda na economia brasileira ainda está acima do que a oferta doméstica pode entregar (o que, aliás, levará o Banco Central, na noite de hoje, a novamente ministrar o remédio amargo do aumento de juros).
O nível de capacidade utilizada da indústria recua, mas segue em nível elevado.
O emprego já cresce a um ritmo mais lento, mas ainda pressiona os salários (portanto os custos).
Resta então recorrer à oferta externa tanto de máquinas, necessárias nos investimentos, como de bens de consumo. Isso aumenta a oferta agregada e ajuda no combate à inflação, mas o saldo comercial cai.
Como a economia brasileira permanecerá em crescimento, o saldo comercial deverá continuar a encolher ao longo deste ano.
Novas medidas paliativas sobre o câmbio poderão surgir. Mas as questões estruturais que cercam o "custo Brasil" é que deveriam centralizar o debate sobre a competitividade da economia doméstica no longo prazo.

FLÁVIO SAMARA é economista da LCA Consultores.


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