São Paulo, quinta-feira, 03 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

Jornal se parece a uma revista diária, muito bem acabada

ANA BUSCH
DIRETORA-EXECUTIVA DA FOLHA.COM

O primeiro jornal editado exclusivamente para iPad não se parece em nada com o que tradicionalmente chamamos de jornal. O "Daily", publicação digital produzida pela News Corp., de Rupert Murdoch, anuncia na abertura do primeiro editorial que novos tempos demandam um novo jornalismo.
Quem "folheia" pela primeira vez as páginas do Daily tem um sentimento imediato de estar diante de uma revista, muito benfeita e bem acabada, mas, ainda assim, uma revista diária.
A própria página de abertura contraria a construção do que conhecemos por jornal ao abrir mão do mosaico que pretende reunir os fatos mais importantes do dia anterior, substituído pela foto recortada e estilo telegráfico de texto.
Mais que a forma, o "Daily" coloca questão importante: será possível produzir diariamente conteúdo de qualidade em edição tão rica em detalhes, sem perder temperatura?
E mais: a economia inerente à distribuição digital será capaz de compensar o que vai ser exigido para manter um grupo de jornalistas e apoiadores que produza em menos de 24 horas o que hoje exige fôlego de uma semana?
Problemas à parte, o jornal usa bem boa parte dos recursos do iPad. Parece tomar como ponto de partida o princípio de que o leitor não espera de um jornal no tablet a mesma experiência de leitura do papel.
Foge da lógica simples ao oferecer, por exemplo, algum conteúdo extra quando em formato "landscape", ou paisagem. Em contrapartida, priva quem opta pela leitura horizontal da fluidez da leitura, já que o material adicional se insere na edição, como uma série de páginas extras.
A navegação também tem seus pecados. Ao final das reportagens, há links que remetem a assuntos relacionados, mas não um botão para voltar ao ponto de partida.
A edição de abertura não poderia ter sido mais afortunada no que diz respeito à temperatura do noticiário. A crise no Egito oferece material farto para ser bem talhado no formato digital, com vídeos, gráficos interativos e galerias de fotos.
Vai ser preciso aguardar ainda algumas edições para avaliar a sustentação desse modelo. Se se mostrar possível, aí, sim, teremos um novo jornalismo ou, pelo menos, um jornalismo diferente e, quem sabe, um gol.


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