São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2010

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ANÁLISE

Melhora na distribuição de renda vai ditar o ritmo de avanço do consumo

CLAUDIO FELISONI DE ANGELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A crise internacional em 2008 e 2009 que solapou as bases das principais economias do mundo abalou também o Brasil, porém de modo muito pouco significativo. A razão para essa situação absolutamente inédita é que o país mudou.
A implementação das políticas anticíclicas para suavização dos efeitos depressivos vindos dos mercados externos, a partir de setembro de 2008, só foi possível em razão desse ambiente.
Para compreender, entretanto, a evolução do consumo e tentar delinear suas possibilidades é preciso retroceder a 1994, data da edição do Plano Real.
O Real estabeleceu as precondições para o crescimento posterior do consumo. Sem a estabilidade da moeda, não teria sido possível avançar.
Na verdade, de 1998 a 2003, o Brasil cresceu pouco em comparação a outros países emergentes: entre zero e 2,6%. Somente após 2003 é que a economia passa a registrar crescimento vigoroso.
Boa parte dessa expansão foi catapultada pelo aumento da disponibilidade de crédito. Entre 2003 e 2009, o volume de crédito em termos nominais cresceu a taxas anuais entre 9% e 11%.
Esse ritmo foi sustentado fundamentalmente por uma dilatação dos prazos médios de pagamento. Nesse período, a taxa de juros declinou e a renda real cresceu.
O avanço do consumo nos últimos anos é, portanto, muito compreensível. Entretanto, qual a importância relativa de cada um deles? Esse aspecto é essencial para que se possa vislumbrar a evolução futura do consumo.
Um trabalho recente realizado com dados estatísticos procurou medir a sensibilidade do consumo às alterações da renda e do volume de crédito. Verificou-se que um aumento de 1% no volume de crédito induz ao aumento do consumo da ordem de 0,1%.
O mesmo aumento de 1% na renda propicia elevação do consumo da ordem de 0,75% (Felisoni Consultores). Esse fato explica por que o crédito ainda é muito caro.
A renda, portanto, é absolutamente essencial para sustentar o consumo. Porém não apenas a renda mas também sua distribuição. Melhoras da distribuição de renda e aumentos da renda real dependem também dos investimentos e do ritmo de evolução dos preços.
O que se pode esperar no futuro próximo? O Brasil apresenta condições favoráveis para expansão do consumo. Evidentemente, considerando a ainda baixa renda per capita e a elevada concentração, é de esperar que o consumo cresça vigorosamente nos próximos anos.
O atendimento dessa demanda de consumo se dará em um ambiente muito competitivo, com a presença marcante de novas formas e formatos de comercialização.
Uma superposição de atividades será a marca desse ambiente. O consumidor é o alvo. Esse alvo será perseguido com menos especialização e mais tenacidade.


CLAUDIO FELISONI DE ANGELO é presidente do Conselho do Provar.


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