São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2011 |
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ANÁLISE Atritos geram perdas tanto ao Brasil quanto à Argentina
FLAVIO SAMARA ESPECIAL PARA A FOLHA Os atritos entre Brasil e Argentina extravasaram, de novo, as quatro linhas do futebol e atingiram as relações comerciais. Depois que barreiras impostas por Buenos Aires atingiram as exportações brasileiras, o governo Dilma retirou a licença automática às importações de produtos automobilísticos argentinos, em retaliação não declarada. A teoria econômica há muito aponta para os ganhos de riqueza provenientes do livre comércio entre nações. A tese mais tradicional foi formulada pelo britânico David Ricardo no século 19. Ela aponta que o comércio internacional permite a cada economia nacional concentrar produção nos setores em que tem maior eficiência (ou seja, produz a custo mais baixo). Com isso, o país pode exportar a sua produção excedente e obter, pela importação, outros bens e serviços a um custo menor (ou com qualidade superior). O Brasil, por exemplo, é mais eficaz em produzir soja que trigo. Não por acaso, é exportador de soja enquanto importa a maior parte do trigo que consome. Não fosse o comércio internacional, restaria aos brasileiros consumir somente pão de soja ou pagar bem mais pelo pão francês. A Argentina é um dos principais destinos das exportações nacionais, importando principalmente veículos automotores e componentes. Na via inversa, o Brasil compra sobretudo trigo, nafta e itens do setor automobilístico. É uma corrente comercial que movimentou US$ 35,5 bilhões em riquezas nos últimos 12 meses. Limitações a essa corrente tendem a ter implicações negativas no consumo e no emprego em ambas as nações. A imposição de barreiras também traz consequências políticas danosas. Um acordo de comércio (supostamente) livre como o Mercosul se enfraquece com a escalada de atritos entre seus dois principais membros. Assim, aumentam as dúvidas dos demais membros sobre as vantagens de negociar conjuntamente o acesso a outros mercados consumidores (EUA, Europa e Ásia). Cabe aos representantes dos governos buscar o entendimento que solucione esse entrave, pois, diferente do futebol, do ponto de vista dos países como um todo a derrota neste jogo traz perdas sem vencedores. FLAVIO SAMARA é economista da LCA Consultores. Texto Anterior: Reunião Brasil-Argentina termina sem acordo efetivo Próximo Texto: Commodities: Gasolina e álcool caros favorecem GNV Índice | Comunicar Erros |
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