São Paulo, domingo, 03 de julho de 2011

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Estrangeiro qualificado sofre por visto

Apesar da falta de engenheiros e profissionais de tecnologia, Brasil é um dos países que menos concedem autorizações

Profissional e empregador enfrentam processo demorado; momento é propício para atrair talentos

ÉRICA FRAGA
NATÁLIA PAIVA
DE SÃO PAULO

Apesar do deficit de profissionais qualificados e do maior interesse de estrangeiros em migrar para o Brasil, empresários, trabalhadores, recrutadores e estudantes reclamam de um mesmo entrave: a burocracia para vistos.
Em razão disso, o país, entre as grandes economias, é um dos que têm menor entrada de profissionais de fora.
De 2006 a 2010, o número de vistos concedidos a trabalhadores estrangeiros mais que dobrou. Mas é extremamente baixo em comparação a outros países, segundo dados levantados pela empresa de recrutamento Robert Half a pedido da Folha.
As 56.006 autorizações de 2010 representam um décimo dos trabalhadores estrangeiros que Reino Unido ou EUA receberam; ou um quarto do que China ou Canadá autorizaram (veja quadro).
Além de ainda ser comparativamente baixo, o número é formado majoritariamente (95%) por vistos temporários -o que, segundo o próprio Ministério do Trabalho, "demonstra que não são profissionais que estão vindo suprir a demanda de mão de obra interna, e sim transferir conhecimentos específicos".
Pesquisa da Grant Thornton com empresários de 39 países aponta que os brasileiros estão entre os que mais veem a falta de mão de obra qualificada como grande entrave ao crescimento -atrás apenas de Botsuana e Índia.
Apesar disso, só 1,4% dos estrangeiros que têm vindo para o país possuem mais que nível superior. O percentual pífio contrasta com o interesse cada vez maior de profissionais e estudantes de fora em vir trabalhar no país.
Eles são atraídos pelas perspectivas de crescimento -em um contexto de lenta recuperação no mundo desenvolvido- e por salários que já são comparáveis aos dos principais centros financeiros do mundo, segundo pesquisa feita pela Michael Page para a Folha.
Mas os entraves burocráticos levam muitas empresas a simplesmente não buscar mão de obra qualificada fora.
"A atitude da maioria das empresas acaba sendo a de não contratar estrangeiros", diz o alemão Matthias Weisheit, vice-presidente do Barclays Capital que enfrentou obstáculos quando veio trabalhar no Brasil, em 2007.

DESISTÊNCIA
Segundo Monica Piercy, diretora do centro de administração de carreira da Lisbon MBA, também têm ocorrido casos em que estudantes que estão terminando sua pós-graduação desistem de oferta feita por empresa brasileira por conta de demora para a concessão de visto.
"Hoje, um processo de visto que demoraria 30 dias chega a demorar quatro meses. Tenho um que está [pendente] há quase nove meses", diz Alessandra Leite, sócia da Assistere, especializada em assessoria jurídica a trabalhadores estrangeiros.
Para especialistas, essas dificuldades são um entrave ao desenvolvimento do país.
Ricardo Bevilacqua, diretor na América Latina da Robert Half, diz que estrangeiros qualificados dinamizam a economia e geram mais oportunidades de negócios.
É a mesma opinião de Philip Yang, executivo da área de energia: "Países abertos tendem a ser mais plurais, dinâmicos e inovadores".


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