São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011

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Compra da Schin é a mais 'cara' desde 2002

Indicador que apura valor é o dobro de operações similares em cerveja

Kirim paga R$ 3,95 bi por 50,45% das ações da Schincariol; para consultor, aquisição não muda mercado

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

A aquisição da Schincariol custou caro para a japonesa Kirin. Levantamento da agência Bloomberg mostra que a relação entre o valor pago e a capacidade de geração de caixa -medida para avaliar o valor de compra de uma empresa- foi quase o dobro da média de operações similares realizadas entre 2002 e 2009.
A Kirin pagou, à vista, R$ 3,95 bilhões (US$ 2,5 bilhões) pelas ações da Aleadri-Schinni Participações, detentora de 50,45% do grupo Schincariol. Isso significa dizer que a companhia foi avaliada em R$ 8,6 bilhões.
Esse preço equivale a 17 vezes o lucro antes de impostos e taxas (Ebitda), indicador que reflete a capacidade de geração de caixa de uma empresa, que foi de R$ 509 milhões no ano passado.
Nas dez operações similares no setor em todo o mundo analisadas pela Bloomberg, a média dos valores pagos é de nove vezes o Ebitda.
Uma das operações mais caras foi feita pela própria Kirin, que pagou US$ 3,8 bilhões pela segunda cervejaria da Austrália, a Lions Nathan, em 2009. O valor equivalia a 13,13 vezes a geração de caixa da Lions.

INTERNACIONALIZAÇÃO
Segunda maior cervejaria do Japão, a Kirin passa por um processo de internacionalização e já investiu US$ 12 bilhões em aquisições desde 2005. Segundo a Bloomberg, no ano passado, 23% do faturamento veio de fora do Japão, ante 14% em 2005.
"O preço não foi nenhuma pechincha, como todos esperavam", afirmou a corretora Link, ao avaliar que essa foi uma "boa oportunidade" para a companhia japonesa "entrar em um mercado com taxas de crescimento tão elevadas como o brasileiro".
A Kirin já havia analisado o mercado brasileiro, durante o processo de venda da Kaiser, há cerca de um ano, mas a marca acabou sendo vendida para a holandesa Heineken. Desta vez, venceu a disputa contra SAB Miller e própria Heineken.
"A Kirin é uma companhia de bebidas e alimentos e o seu interesse pelo mercado brasileiro não pode ser avaliado apenas pela cerveja" diz o consultor Adalberto Viviani, da consultoria Concept.
Na avaliação dele, a Kirin deve aproveitar a estrutura de distribuição da Schincariol para oferecer amplo portfólio de produtos e marcas.
A empresa japonesa já está presente no Brasil com uma operação de nicho, concentrada em saquês, molho de soja e arroz.
Em comunicado, a Kirin afirmou acreditar ser capaz de elevar as vendas da Schin em 10% apenas com o uso de tecnologias e marketing.
"A Kirin é uma empresa conservadora e não vem para o Brasil disputar participação de mercado. Vai disputar lucro", afirma Viviani.

DEVASSA
Com presença forte no Nordeste e 13 fábricas no país, a Schincariol vinha enfrentando dificuldades para crescer e ampliar margens. Lançamentos feitos com estardalhaço, como a Devassa Bem Loura, que teve Paris Hilton como garota-propaganda, não se traduziram em vendas.
"A Schincariol estava começando a sentir o peso de ser grande em um mercado tão competitivo com atores internacionais", diz Viviani.
"Enquanto os concorrentes vendem marca e embalagem, a Schin ainda vende hectolitro."
Na avaliação do consultor, a chegada da Kirin não deve alterar o mercado de cerveja nacional, terceiro maior do mundo, atrás de China e EUA.


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