São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2011

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China vai investir US$ 1,5 bi para produzir alimentos na Argentina

Projeto será na província de Río Negro, em área de 330 mil hectares; soja deve ter prioridade

Chineses vão financiar a irrigação das terras, a construção de uma fábrica de azeite e a reforma de porto

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO

DE BUENOS AIRES

Maior importador mundial de soja, a China anunciou um bilionário investimento na Argentina para produzir alimentos, sobretudo soja, em uma área de 330 mil hectares -equivalente a duas cidades de São Paulo.
A produção, assim como o fornecimento de toda a tecnologia, ficará a cargo da estatal chinesa Heilongjiang, que investirá US$ 1,5 bilhão no empreendimento, que conta com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
O acordo firmado com a província de Río Negro, na patagônia argentina, prevê que a companhia chinesa tenha exclusividade na compra da produção local por um prazo de 20 anos.
A estatal vai financiar a irrigação das terras, a construção de uma fábrica de azeite e ainda vai bancar a reforma de um porto local.
Em contrapartida, a empresa deverá usar mão de obra local -estima-se a criação de 100 mil postos de trabalho- e cooperativas de produtores regionais.
Preocupados em garantir alimentos para sua gigantesca população, a China, após grandes investimentos na soja brasileira, começa a plantar raízes na Argentina. A presença da Heilongjiang em Río Negro é o maior investimento chinês em soja no país.
Na área explorada pelos chineses no sul da Argentina será possível produzir cerca de 700 mil toneladas, segundo estimativa do analista Gustavo López, da consultoria AgroTrend. O montante equivale a quase 10% do total exportado pela Argentina para a China.
Técnicos chineses já estão na região realizando estudos técnicos. Não há data para o início da produção.
Segundo dados do Crea (Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola), entidade que acompanha o setor agrícola, o país asiático foi o destino de 75% dos 10 milhões de toneladas de grãos de soja exportados pela Argentina no ano passado -a produção total no país superou 50 milhões de toneladas.
Mas segundo Ernesto Fernandez Taboada, diretor-executivo da Câmara de Comércio Argentina-China, os chineses também vão produzir frutas em Río Negro. "Estamos aumentando nossa dependência da China, mas não há como lutar contra moinhos de vento."
Taboada lembra que as terras da província de Río Negro são improdutivas, e o acordo com os chineses vai proporcionar à região novas tecnologias para irrigação do solo, além de empregos.
Mas a presença da estatal chinesa causa polêmica. Mesmo com a aprovação da Presidência argentina, o ministro da Agricultura, Julián Domínguez, disse que será "complexo conviver com um Estado soberano dentro do nosso".
A ONG Uñopatum foi à Justiça contra o governo de Río Negro. "Esse é um acordo muito obscuro", diz o presidente da organização, Elvio Mendioroz.
"O governo de Río Negro foi o intermediário de um negócio que vai permitir que um Estado soberano compre as terras de outro Estado".
O governador da província, Miguel Saiz, ressalta que as terras não serão vendidas, mas arrendadas.


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