São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2010

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VINICIUS TORRES FREIRE

Fim de ano e fim da picada


Candidatos seguem inércia de governo e Congresso e ignoram questões nacionais e já partem para a baixaria

DAQUI A uma semana começa a Copa. Entre um jogo e outro, os candidatos serão "oficiais". Vai acabar a novela hipócrita das "multas por campanha antecipada", as quais, se fossem coisa séria, renderiam punições diárias a todos os "pré-candidatos". Vai acabar a tediosa novela de Aécio Neves na vice de José Serra (PSDB). Também estará perto do fim ou finado o ano legislativo.
Haverá "janelas de oportunidade" antes de julho, nas quais os parlamentares ainda terão tempo de esburacar as contas do governo, como o fizeram em maio. Haverá ainda uma rebarba depois da eleição. Mas o ano está quase morto no que diz respeito a mudança importantes e a debates supostamente sérios.
No final do ano passado, imaginava-se que, para o bem ou para o mal, haveria alguns assuntos novos e de relevância para o debate. Políticos, jornalistas e a "opinião pública" organizada nos ocupávamos do pré-sal e de sua suposta relevância para a campanha de 2010.
A mudança das leis está parada no Congresso. Os candidatos mal tocam no assunto. Trata-se do maior programa de investimentos da história do país, trata-se da mudança de propriedade da maior empresa do país, da propriedade da exploração do petróleo, da redistribuição de fundos públicos pelas unidades da Federação. Mas parece que lidamos com a regulamentação da venda de querosene para lamparinas.
No início deste ano ainda se discutia, fora e dentro do governo, um dos poucos grandes projetos novos do governo Lula, a dita "Consolidação das Leis Sociais", que nunca se soube bem o que seria, mas diria respeito a transferências de renda expandidas no período luliano. Há quem diga que foi melhor o governo ter esquecido do projeto, que poderia dar pano para muita manga populista. Mas esse era um grande projeto do programa legislativo para 2010. O que havia mais na pauta do governo? Nada, ou quase nada.
Ao menos saiu a criação do Eximbank, o braço do BNDES para o financiamento de exportações. Mas, por ora, a medida é mais uma reorganização burocrática de contas e responsabilidades, sem grande impacto prático. O "pacote" de apoio ao exportador mal saiu do papel -parte dele nem foi para o papel.
Decerto o governo tinha de implementar medidas ambiciosas, vendidas faz tempo, como o Minha Casa, Minha Vida, de razoável sucesso. As grandes hidrelétricas, mal ou bem, vão adiante. Mas não há mudanças institucionais relevantes desde a primeira metade de Lula 1.
Problemas sérios de infraestrutura ficaram largados, como é o caso dos aeroportos e o da concessão de estradas. Projetos ambiciosos demais e de escassa prioridade estão sendo tocados, como o do trem-bala, que pode ser o maior programa de subsídios inúteis do país.
Os candidatos mal tratam desses assuntos. Estão envolvidos demais no "posicionamento estratégico da marca". Serra tenta fugir da imagem de anti-Lula e mascara-se de "durão" no que diz respeito à segurança pública. Dilma Rousseff (PT) troca maquiagens, reais e metafóricas, passa um batom carismático e faz uma chapinha de simpatia. No mais, e muito cedo, a baixaria começou, com o suposto dossiê contra a filha de Serra, assunto que deve dominar o final do período de campanha eleitoral antecipada -este início do fim da picada.

vinit@uol.com.br


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