São Paulo, quarta-feira, 04 de agosto de 2010

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ANÁLISE PECUÁRIA

Brasil compra muita genética de fora, mas exporta pouco


A IMPORTAÇÃO DE GENÉTICA TEM PAPEL RELEVANTE , MAS O QUE SE VÊ É UM CENÁRIO DESIGUAL, POIS CONTINUAMOS IMPORTANDO MUITO, PORÉM EXPORTANDO POUCO

PAULO DE CASTRO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Brasil importa mais de 40% do sêmen de bovinos de corte e de leite que utiliza para a produção anual de mais de 45 milhões de bezerros.
Só em 2009 foram 3,8 milhões/doses em um mercado total de 9,2 milhões/doses. É o maior percentual dos últimos dez anos e demonstra que ainda estamos parcialmente dependentes de genética importada.
Que mal há nisso? Essa questão merece ser analisada de duas maneiras. Sob o ponto de vista de produtividade, pode-se dizer que importar material genético de alta qualidade ajuda a acelerar a oferta de carne e leite na medida em que os animais tendem a crescer mais rápidos e chegar à idade de abate ou produção mais cedo.
Perfeito. Porém, também se pode dizer que essa dependência atrasa o desenvolvimento da genética nacional, já que é mais barato comprar um pacote pronto do que desenvolvê-lo.
A pecuária brasileira gera quase 10 milhões de toneladas de carne e 30 bilhões de litros de leite por ano. Evoluímos dramaticamente no segmento de corte, ganhando eficiência, reduzindo o tempo de abate e aprimorando raças fantásticas, tanto zebuínas como europeias.
No caso do leite, consolidamos o zebu e seus cruzamentos como opções muito produtivas para as condições tropicais do nosso país.
A importação de genética tem papel relevante na história da atividade, mas o que se vê atualmente é um cenário desigual, pois continuamos importando muito, porém exportando pouco.
Afinal, contra quase 4 milhões de doses de sêmen vindos do exterior no ano passado, vendemos 132 mil doses para apenas cinco países.
Um caso sui generis é o da raça angus, tida como produtora da melhor carne do mundo, e que atingiu elevado estágio de desenvolvimento no Brasil.
Ao contrário de outras raças de origem europeia, que chegaram e perderam a dependência de material genético de fora, o angus não consegue vencer essa barreira.
No último relatório da Asbia, a entidade que reúne as centrais de inseminação artificial, a raça aparece com expressivas vendas de 1,45 milhão de doses/ano, 15,9% de todo o sêmen comercializado no país em 2009.
Porém, nada menos do que 65% desse sêmen vêm de fora do Brasil -particularmente de Estados Unidos, Canadá e Argentina.
Incompetência dos criadores brasileiros? Não, pois o país já provou sua capacidade adaptando outras raças mais desafiadoras. A resposta envereda pelo campo da globalização, jogo político e seus desafios.
A pecuária brasileira não consegue vencer as barreiras comerciais, expressas pela ausência de protocolos de saúde animal com países potencialmente compradores da nossa genética.
Partindo da falta de apoio das autoridades aos complexos trâmites burocráticos, a situação não avança. Está aí uma boa oportunidade para os pecuaristas apoiarem a genética nacional.


PAULO DE CASTRO MARQUES, empresário e pecuarista, é proprietário da Casa Branca Agropastoril, especializada na criação de gado angus, brahman e simental sul-africano.


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