São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2010

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ANÁLISE

A economia americana sob a armadilha da liquidez

MÁRCIO HOLLAND
ESPECIAL PARA A FOLHA

Paira uma grande dúvida sobre os efeitos de mais esforços monetários para a recuperação dos EUA.
Seus efeitos sobre o lado real da economia, ou seja, sobre emprego e produção, poderão ser marginais perante um potencial risco de inflação de preços de commodities e desenvolvimento de mais bolhas especulativas à frente, especialmente em economias emergentes.
De qualquer forma, os EUA estão muito próximos de assumir que estão mesmo sob uma armadilha da liquidez, mesmo que com potencial de ser menos severa do que a sofrida pelo Japão.
Vale recordar o debate sobre o "balance-sheet recession", ou seja, recessão por conta de desequilíbrios de balanços de empresas e famílias. Imagine que muitos americanos (empresas e famílias) tenham realizado compras de ativos (imóveis, máquinas e equipamentos, e mesmo ativos financeiros) com a emissão de dívida.
Devido à grande demanda por esses ativos, seus preços subiram bastante, o que justificava a emissão de dívidas.
Em algum momento, os preços desses ativos caem.
Começa, assim, a se desenvolver um problema clássico de desequilíbrio de balanço.
Quando o Fed anuncia reduções nas taxas de juros seguidas de afrouxamentos monetários ("quantitative easing"), os residentes estão muito mais preocupados em reduzir o tamanho de suas dívidas do que em maximizar lucros e bem-estar.
Assim, excessos de recursos são utilizados para abater dívidas passadas, sem demandas adicionais por novos recursos. O Fed tenta recuperar o desejo dos residentes pelo consumo e investimento, evitando deflação geral.
Programas como o de compra de títulos garantidos por hipotecas e do Tesouro têm sido vistos com certo ceticismo por diversas correntes.
Afinal, pode estar sendo armada uma nova bomba, com aumento do risco de desequilíbrios. Um segundo efeito tem sido a intencional desvalorização do dólar.
Ou seja, um instrumento de política monetária (afrouxamento monetário em ambiente de taxa real de juros negativa) tem dois canais (câmbio e balanços de residentes) para promover a recuperação da principal economia mundial.
O Fed está de mãos atadas; pouco mais poderá fazer. A partir de agora, estímulos fiscais muito superiores aos dados até então parecem o caminho natural para romper a armadilha de liquidez com maior velocidade e eficácia.


MÁRCIO HOLLAND é professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP)


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