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ANÁLISE
A economia americana sob a armadilha da liquidez
MÁRCIO HOLLAND
ESPECIAL PARA A FOLHA
Paira uma grande dúvida
sobre os efeitos de mais esforços monetários para a recuperação dos EUA.
Seus efeitos sobre o lado
real da economia, ou seja, sobre emprego e produção, poderão ser marginais perante
um potencial risco de inflação de preços de commodities e desenvolvimento de
mais bolhas especulativas à
frente, especialmente em economias emergentes.
De qualquer forma, os
EUA estão muito próximos
de assumir que estão mesmo
sob uma armadilha da liquidez, mesmo que com potencial de ser menos severa do
que a sofrida pelo Japão.
Vale recordar o debate sobre o "balance-sheet recession", ou seja, recessão por
conta de desequilíbrios de
balanços de empresas e famílias. Imagine que muitos
americanos (empresas e famílias) tenham realizado
compras de ativos (imóveis,
máquinas e equipamentos, e
mesmo ativos financeiros) com a emissão de dívida.
Devido à grande demanda
por esses ativos, seus preços
subiram bastante, o que justificava a emissão de dívidas.
Em algum momento, os preços desses ativos caem.
Começa, assim, a se desenvolver um problema clássico de desequilíbrio de balanço.
Quando o Fed anuncia reduções nas taxas de juros seguidas de afrouxamentos
monetários ("quantitative
easing"), os residentes estão
muito mais preocupados em reduzir o tamanho de suas dívidas do que em maximizar lucros e bem-estar.
Assim, excessos de recursos são utilizados para abater
dívidas passadas, sem demandas adicionais por novos
recursos. O Fed tenta recuperar o desejo dos residentes
pelo consumo e investimento, evitando deflação geral.
Programas como o de compra de títulos garantidos por
hipotecas e do Tesouro têm
sido vistos com certo ceticismo por diversas correntes.
Afinal, pode estar sendo
armada uma nova bomba,
com aumento do risco de desequilíbrios. Um segundo
efeito tem sido a intencional desvalorização do dólar.
Ou seja, um instrumento
de política monetária (afrouxamento monetário em ambiente de taxa real de juros
negativa) tem dois canais
(câmbio e balanços de residentes) para promover a recuperação da principal economia mundial.
O Fed está de mãos atadas; pouco mais poderá fazer. A partir de agora, estímulos fiscais muito superiores aos dados até então parecem o caminho natural para romper a
armadilha de liquidez com maior velocidade e eficácia.
MÁRCIO HOLLAND é professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV-EESP)
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