São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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BC reduz risco de "bolha de crédito" em 2011

Medidas reorganizam expansão de empréstimos e forçam os bancos a reduzir os prazos dos financiamentos

Fim de compulsório para obter recursos de longo prazo equilibra captação dos bancos e empréstimos maiores


TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Mais do que esfriar as compras de Natal, as medidas anunciadas ontem pelo BC vão desacelerar e reorganizar a expansão do crédito brasileiro, que cresce em média 20% ao ano desde 2003.
As medidas encarecem os empréstimos de prazos mais longos, que faziam as prestações caberem no bolso do consumidor de baixa renda, mas tinham como efeito colateral a queda de parte da renda disponível e o estímulo ao superendividamento.
Ao mesmo tempo em que retira pressão inflacionária, o BC estimula a concessão de financiamentos mais responsáveis e reduz o risco de um calote geral na economia.
Prepara ainda terreno para um 2011 mais difícil, com juros maiores, inflação corroendo a renda e possível corte nas despesas públicas.
"É mais uma das maldades pós-eleitorais do governo. Não estraga o Natal, mas vai aumentar o juro ao consumidor. O crédito farto estava motivando o devedor a contrair novos empréstimos com prazos cada vez maiores. Isso poderia gerar um problema de inadimplência lá na frente", afirma Luis Miguel Santacreu, analista da Austing Ratings.
"Não estraga o Natal, mas aumenta o custo de captação dos bancos e vai bater no consumidor, com o aumento das taxas. É natural que o governo retirasse os estímulos dados para o consumo para passar pela crise. Mas isso não dispensa a necessidade de aumento de juros em janeiro ou em março", afirma Juan Jensen, economista da Tendências Consultoria.
Na avaliação de Renato Oliva, presidente da ABBC (associação dos bancos médios e pequenos), as instituições financeiras devem reduzir a expansão do crédito em 2011. "Se tinha banco prevendo crescimento de 20% a 25%, vai cair para 15%."

PRAZOS
Por outro lado, o BC também atendeu ontem em parte uma antiga reivindicação dos bancos de ter um "casamento" maior entre prazos de captação de recursos e de concessão de financiamentos. Hoje, os bancos captam dinheiro na poupança, que tem liquidez diária, e financiam a casa própria com prazo médio de 10,3 anos.
O BC decidiu isentar de compulsório as Letras Financeiras, títulos emitidos pelos bancos para captar em longo prazo, que tinham recolhimento de 15%, como o CDB.
Já que os CDBs tiveram o compulsório elevado para 20%, a Letra Financeira ganhou um apelo para viabilizar financiamentos longos como infraestrutura.
"O governo está dando uma diretriz para a gestão bancária nos próximos anos. À medida que exige mais capital para crédito longo, sinaliza aos bancos que, se quiserem alongar prazos, vão ter capacidade menor para novos empréstimos", disse.


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