São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Medidas tiram pressão por aumento de juro

SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA

Ao apertar os bancos que têm financiado as compras da população em geral, o Banco Central mostrou que a piora nas expectativas de inflação e o risco de bolhas de crédito incomodam mais o governo do que mostraram os documentos oficiais.
O anúncio deu ainda outros sinais importantes. Um deles é o de que a política econômica nos primeiros meses da gestão Dilma deverá ser mesmo contracionista, mas os juros não serão o único instrumento.
Diante de uma forte demanda social pela redução dos juros e do desejo pessoal da presidente eleita, o governo parece querer evitar uma alta da taxa -ou, ao menos, esperar mais para ver se e quando ela será necessária.
O recado foi que o BC está atento à situação. Mas o tiro dado com as medidas terá eficácia limitada.
Ajudou a ancorar as expectativas do mercado, que pioravam a cada semana.
No entanto, o segmento atingido diretamente pelas novas regras, o de bens duráveis, não é o que mais vem pressionando a subida dos índices de preços. Carros e eletrodomésticos contam até com efeito das importações para segurar os preços.
O que tem puxado a inflação para cima são os alimentos e o setor de serviço, no qual escolas, restaurantes e salões de beleza não sofrem concorrência de importados.
As medidas do BC, segundo a Folha apurou, começaram a ser desenhadas há cerca de quatro semanas.
Foi justamente esse o período em que o BC lidava com o rombo de R$ 2,5 bilhões no PanAmericano e fazia um pente-fino nos bancos pequenos que avançaram agressivamente no crédito.
Ali ficou claro que algo era preciso ser feito.
Recentemente, o atual presidente do BC, Henrique Meirelles, creditou ao episódio do PanAmericano a parada no ciclo de alta dos juros, o que reforçou a percepção de que, resolvido o problema, a alta viria em dezembro.
O anúncio de ontem sinalizou que isso pode ficar para mais adiante.
A expectativa agora é em relação ao tamanho do esforço fiscal que o governo Dilma anunciará, já que o ministro Guido Mantega (Fazenda) vem enfatizando que ele virá.
A combinação do aperto monetário de ontem com forte restrição fiscal deixará os juros para depois.
Se confirmado, Dilma poderá marcar pontos antes mesmo de assumir a Presidência: deixará claro que haverá uma política de equipe na economia. Isso amenizará parte das pressões. Mas essa é uma incógnita que só começará a ser decifrada após a decisão do BC sobre juros na próxima semana.


Texto Anterior: BC reduz risco de "bolha de crédito" em 2011
Próximo Texto: BC restringe financiamento de veículos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.