São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Cinco possíveis armas para a zona do euro

Embora a união monetária tenha desafios, não se deve subestimar determinação da Europa em manter moeda


MESMO QUE OS ALEMÃES PERCAM A PACIÊNCIA COM OS VIZINHOS, RETORNAR AO MARCO SERIA CATASTRÓFICO

DO "FINANCIAL TIMES"

A crise da zona do euro continua a escapar ao controle. O resgate de 85 bilhões à Irlanda não impediu que os mercados financeiros causassem severa alta nos custos de captação de Portugal, Espanha e Itália.O euro teve queda acentuada.
As principais autoridades econômicas da região, entre as quais Jean-Claude Trichet, o presidente do BCE, que realizará uma reunião crucial na quinta-feira, insistem em que a determinação da Europa não deve ser subestimada.
A boa notícia para os líderes da zona do euro é que eles têm grande número de armas a empregar, caso o sentimento dos mercados financeiros não se reverta em curto prazo; a má notícia é que nenhuma delas seria fácil de usar.
Eis algumas opções:

1. Reforço na compra de títulos públicos pelo BCE
O guardião monetário do euro começou a adquirir títulos em maio a fim de corrigir os mercados, mas depois de algumas semanas os montantes investidos semanalmente nessas transações caíram de maneira acentuada.
Novas compras poderiam aliviar rapidamente as tensões do mercado. O risco seria uma reação adversa perigosa na Alemanha, onde Axel Weber, presidente do Bundesbank, expressou publicamente sua oposição à compra de títulos. Ele acredita que misturar política fiscal e política monetária só serve para encorajar ações irresponsáveis da parte dos governos, e cria riscos inflacionários.

2. Ampliar o fundo de resgate da União Europeia
Caso Portugal e Espanha sigam a Irlanda e requeiram resgate, isso poderia consumir a maior parte -se não todos os- recursos do mecanismo de resgate de 750 bilhões criado pela UE. Ampliar os montantes disponíveis renovaria a confiança dos mercados quanto à capacidade da UE para resgatar a Espanha e talvez a Itália.
Mas as autoridades se preocupam com a possibilidade de que a ideia sinalize que eles consideram iminente o resgate à Espanha. Politicamente, a ideia tem fôlego: Berlim, que enfrenta ira interna diante de suas grandes contribuições, resistiria.

3. Emissão de títulos
A ideia de que os países da zona do euro emitam títulos comuns de dívida está sendo promovida por Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, que preside as reuniões dos ministros das Finanças da zona do euro.
A vantagem seria reduzir os custos de captação das economias "periféricas", e gerar um maior senso de solidariedade entre os países que compartilham do euro.
Mas Berlim descartou os títulos comuns em euro porque elevariam os custos de captação alemães e violariam as garantias do governo ao povo alemão de que os contribuintes do país não teriam de servir como fiadores dos membros da comunidade.

4. Uma maior união fiscal
A zona do euro tem política monetária unificada, mas sua política fiscal se divide entre os 16 ministérios nacionais das finanças. Não há muita chance de "união fiscal", já que isso requereria que os legislativos abrissem mão de estabelecer orçamentos e impor tributos.
Mas, ainda que involuntariamente, os resgates à Grécia e Irlanda levaram os governos da zona do euro a um passo mais perto da integração de suas políticas fiscais. Novos passos poderiam incluir autorização para que os mecanismos de gestão de crises adquirissem títulos públicos.
Se mais ajuda for considerada necessária para países como Grécia e Irlanda, eles receberão créditos a juros mais baixos, o que aumentaria as suas chances de sucesso.

5. Cenário calamitoso
Caso nenhuma das medidas acima funcione, cresceriam os rumores sobre a dissolução do euro. Mas nenhuma das autoridades da zona do euro acredita que a saída de um país como a Grécia facilitaria a situação nacional. Mesmo que os alemães percam a paciência com os vizinhos, retornar ao marco seria catastrófico; a moeda dispararia, e os exportadores perderiam mercados.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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