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CRÍTICA TECNOLOGIA
História dos fundadores da Apple é crônica da inovação
Clima colaborativo dos anos 70 contrasta com atual controle de produtos
RONALDO LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Nem todo mundo se lembra, mas Steve Jobs começou
sua carreira como "hacker",
vendendo um aparelho que
permitia burlar a rede telefônica e fazer ligações sem pagar nada por isso.
Essa é só uma das histórias
contadas por Michael Moritz
em "O Fascinante Império de
Steve Jobs". Moritz, investidor de risco do Vale do Silício, acompanhou a Apple
por boa parte da vida.
Retorna agora acrescentando um novo capítulo ao livro que escreveu na década
de 80 sobre a fundação da
Apple ["The Little Kingdom",
O Pequeno Reino].
Vale notar que o protagonista do livro não é só Steve
Jobs, mas também Steve
Wozniak, engenheiro e cofundador da Apple, que ajudou definir o conceito de
computador pessoal.
Ao acompanhar a história
dos dois, o livro relata a dinâmica da inovação. É interessante ver como a Califórnia
dos anos 70, com sua mistura
de filosofia zen e um ambiente tecnológico colaborativo,
foi determinante para o surgimento da Apple.
Tanto Jobs quanto Wozniak aprenderam sobre computadores na prática.
Estudaram os circuitos de
outras máquinas (como o
precursor Altair), visitaram
projetos de outras empresas
(como Atari e HP), participaram de clubes de computação e se valeram do ambiente
universitário favorável.
CONTROLE
Esse cenário quase utópico, em que o papel do amador era tão importante quanto o do profissional, contrasta com as transformações
posteriores da Apple, no sentido de exercer controle quase total sobre seus produtos.
Sobre isso, vale notar que
nem iPhone nem iPad trazem
parafusos que permitam que
os produtos sejam abertos
pelo consumidor. Até a troca
da bateria deve ser feita pela
Apple. Um símbolo de como
os valores da empresa foram
se modificando desde seu
surgimento descrito no livro.
Outra transformação importante foi a evolução da
empresa, surgida literalmente em uma garagem, para
uma gigante de capital aberto, com mais de 1.500 funcionários, em alguns poucos
anos. É o ponto forte do livro.
Ele mostra os dois pesadelos fundamentais que assolam empresas de tecnologia.
O primeiro, criar demanda
por um novo produto, muitas
vezes desconhecido do consumidor. O segundo, lidar
com a explosão dessa demanda e se reorganizar para
dar conta dos pedidos
O livro deixa claro como os
ciclos de inovação impulsionam ou destroem empresas.
A Apple que ganhou o mundo na década de 80 com o
Apple 2 foi obliterada, após a
saída de Jobs, pela conjunção entre IBM e Microsoft.
Hoje Steve Jobs está de volta e o mundo é de novo da
Apple. E o livro de Moritz nos
leva inevitavelmente a perguntar: por quanto tempo?
O FASCINANTE IMPÉRIO DE STEVE JOBS
AUTOR Michael Moritz
TRADUÇÃO Heinar Maracy
EDITORA Universo dos Livros
QUANTO R$ 39,90 (368 págs.)
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