São Paulo, sábado, 05 de junho de 2010

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O americano que reivindica Serra Pelada

Vendedor de pedras preciosas fundou mineradora no Brasil em 2004 e foi retirado da sociedade três anos depois; ele diz que vai lutar até o fim por seus direitos sobre o garimpo

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM

Foi em outubro de 2008 que Brent Smith, um ex-eletricista norte-americano que negocia pedras preciosas, teve certeza de que tinha perdido o direito de explorar Serra Pelada.
O lendário garimpo no sudeste do Pará ainda guarda em seu subsolo bilhões de reais em ouro.
Smith diz que se sentiu "esfaqueado no coração" ao perceber que seu investimento mais aventuroso tinha sido desperdiçado pelo que ele chama de ato "100% criminoso" dos sócios brasileiros.
A sociedade em questão era a Phoenix Gems do Brasil, empresa fundada por ele que, em 2004, causou polêmica ao anunciar que iria reabrir Serra Pelada em conjunto com uma cooperativa de garimpeiros.
Era a melhor notícia em anos para milhares de homens que ainda esperavam enriquecer com o garimpo, fechado pelo governo em 1992 por falta de segurança.
A história rodou o país, mas surgiram os problemas. Havia violentas disputas entre os garimpeiros. O governo não reconhecia o contrato porque a área ainda pertencia à mineradora Vale.
E, segundo Smith, seus parceiros na empreitada, os irmãos Verônica e Artaxerxes Campos Lima, passaram a negociar pelas suas costas.

O SUPOSTO GOLPE
O americano diz que os irmãos usaram, em 2007, uma procuração em seu nome para retirá-lo da empresa.
Apenas 13 dias depois, os dois venderam a participação em Serra Pelada para a canadense Colossus Minerals por um total de aproximadamente R$ 13,4 milhões.
Smith já ouvira boatos. Mas, morando nos EUA, só confirmou os fatos meses depois, ao saber que a Colossus fazia pesquisas na área.
"Fui ilegalmente excluído da minha própria companhia", afirma Smith, 40, de Clarkston, no Estado de Michigan (EUA), onde ainda lapida e negocia rubis, diamantes, esmeraldas e safiras.
Para o advogado dos ex-sócios, a situação é inversa: eles é que foram enganados (leia texto nesta página).

AVENTURA AMAZÔNICA
Smith disse que conheceu a sócia Verônica em 2001, em Georgetown (Guiana). Ela fora indicada por um conhecido em Londres para ajudá-lo a entrar no mercado guianense de diamantes brutos. Era a primeira vez que Smith tentava a sorte fora dos EUA.
"Não sou do tipo que abriria uma loja e trabalharia por 30 anos até me aposentar. Não tenho medo de entrar num aviãozinho, sobrevoar a floresta amazônica e aterrissar num garimpo."
Alguns anos depois, após novas tentativas frustradas de minerar no Brasil, Verônica lhe ofereceu a proposta da Coomigasp (Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada).
Por R$ 240 milhões, a Phoenix Gems teria direito sobre 60% de todo o ouro de Serra Pelada. Smith nunca ouvira falar do local -tinha dez anos quando o garimpo foi aberto-, mas topou o desafio de atrair investidores.
Veio ao Brasil e fechou negócio com Josimar Batista, então presidente da cooperativa, e Sebastião Curió.
Curió é o major do Exército que se tornou o homem mais poderoso da região ao reprimir a guerrilha do Araguaia e foi nomeado interventor de Serra Pelada; Batista foi assassinado em 2008 por disputas locais. Smith diz que viu neles "boas pessoas".

A VOLTA
O americano quer agora, na Justiça, anular sua exclusão e "ajudar os garimpeiros". "Gastei mais de R$ 400 mil. É muito dinheiro. Em algum momento eles [ex-sócios] compreenderão que eu não vou desistir. Vou lutar até o fim", acrescenta.
Se Smith tiver sucesso com suas ações, todo o processo de reabertura de Serra Pelada pode ser anulado.



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