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O americano que reivindica Serra Pelada
Vendedor de pedras preciosas fundou mineradora no Brasil em 2004 e foi retirado da sociedade três anos depois; ele diz que vai lutar até o fim por seus direitos sobre o garimpo
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM
Foi em outubro de 2008
que Brent Smith, um ex-eletricista norte-americano que
negocia pedras preciosas, teve certeza de que tinha perdido o direito de explorar Serra
Pelada.
O lendário garimpo no sudeste do Pará ainda guarda
em seu subsolo bilhões de
reais em ouro.
Smith diz que se sentiu
"esfaqueado no coração" ao
perceber que seu investimento mais aventuroso tinha sido desperdiçado pelo que ele
chama de ato "100% criminoso" dos sócios brasileiros.
A sociedade em questão
era a Phoenix Gems do Brasil, empresa fundada por ele
que, em 2004, causou polêmica ao anunciar que iria
reabrir Serra Pelada em conjunto com uma cooperativa
de garimpeiros.
Era a melhor notícia em
anos para milhares de homens que ainda esperavam
enriquecer com o garimpo,
fechado pelo governo em
1992 por falta de segurança.
A história rodou o país,
mas surgiram os problemas.
Havia violentas disputas entre os garimpeiros. O governo
não reconhecia o contrato
porque a área ainda pertencia à mineradora Vale.
E, segundo Smith, seus
parceiros na empreitada, os
irmãos Verônica e Artaxerxes
Campos Lima, passaram a
negociar pelas suas costas.
O SUPOSTO GOLPE
O americano diz que os irmãos usaram, em 2007, uma
procuração em seu nome para retirá-lo da empresa.
Apenas 13 dias depois, os
dois venderam a participação em Serra Pelada para a
canadense Colossus Minerals por um total de aproximadamente R$ 13,4 milhões.
Smith já ouvira boatos.
Mas, morando nos EUA, só
confirmou os fatos meses depois, ao saber que a Colossus
fazia pesquisas na área.
"Fui ilegalmente excluído
da minha própria companhia", afirma Smith, 40, de
Clarkston, no Estado de Michigan (EUA), onde ainda lapida e negocia rubis, diamantes, esmeraldas e safiras.
Para o advogado dos ex-sócios, a situação é inversa:
eles é que foram enganados
(leia texto nesta página).
AVENTURA AMAZÔNICA
Smith disse que conheceu
a sócia Verônica em 2001, em
Georgetown (Guiana). Ela fora indicada por um conhecido em Londres para ajudá-lo
a entrar no mercado guianense de diamantes brutos.
Era a primeira vez que Smith
tentava a sorte fora dos EUA.
"Não sou do tipo que abriria uma loja e trabalharia por
30 anos até me aposentar.
Não tenho medo de entrar
num aviãozinho, sobrevoar a
floresta amazônica e aterrissar num garimpo."
Alguns anos depois, após
novas tentativas frustradas
de minerar no Brasil, Verônica lhe ofereceu a proposta da
Coomigasp (Cooperativa de
Mineração dos Garimpeiros
de Serra Pelada).
Por R$ 240 milhões, a
Phoenix Gems teria direito
sobre 60% de todo o ouro de
Serra Pelada. Smith nunca
ouvira falar do local -tinha
dez anos quando o garimpo
foi aberto-, mas topou o desafio de atrair investidores.
Veio ao Brasil e fechou negócio com Josimar Batista,
então presidente da cooperativa, e Sebastião Curió.
Curió é o major do Exército
que se tornou o homem mais
poderoso da região ao reprimir a guerrilha do Araguaia e
foi nomeado interventor de
Serra Pelada; Batista foi assassinado em 2008 por disputas locais. Smith diz que
viu neles "boas pessoas".
A VOLTA
O americano quer agora,
na Justiça, anular sua exclusão e "ajudar os garimpeiros". "Gastei mais de R$ 400
mil. É muito dinheiro. Em algum momento eles [ex-sócios] compreenderão que eu
não vou desistir. Vou lutar
até o fim", acrescenta.
Se Smith tiver sucesso com
suas ações, todo o processo
de reabertura de Serra Pelada pode ser anulado.
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